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Coluna

Impacto profundo

29 agosto 2024 - 12h23

Esconder verdades e evidências tem sido uma prática presente em praticamente todas as áreas de interesse humano, em todos os tempos. Nesse sentido, a ficção, às vezes imita a realidade, ou vice-versa, como em um famoso filme americano, produzido pelo diretor Steven Spielberg, lançado em 1998 com o título “Impacto Profundo”. O enredo fala de um gigantesco cometa que está prestes a atingir a terra, podendo causar sua destruição. O fato era de conhecimento das autoridades do governo norte-americano, que omitiram a informação do povo. Porém uma repórter toma conhecimento e torna pública a notícia, causando uma histeria coletiva. 

Se tivéssemos acesso a tudo que acontece nos bastidores, certamente que ficaríamos altamente impactados. O planeta Terra já vem sendo ameaçado há muito tempo, não por um cometa, mas pela própria ação dos homens, principalmente por aqueles que têm o poder de decisão e se omitem. Entretanto, as verdades são escondidas, e vamos vivendo como se houvesse amanhã, como se o amanhã fosse a própria eternidade.

A insensibilidade de políticos governantes tem sido uma constante através da história, como na frase: “que comam brioche”, atribuída a Maria Antonieta (1755-1793), esposa do Rei da França, Luís XVI, e foi muito mal recebida pela população faminta que se amontoava às portas do Palácio do Trianon, exigindo pão. A distância entre o conforto dos bastidores e a realidade do povo sempre foi característica da maioria dos governos, mesmo aqueles identificados como democráticos. 

O profeta bíblico Oséias (século VIII a.C.) já alertava a respeito das consequências da omissão, ao dizer: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porquanto rejeitaste o conhecimento...”  (Oséias cap.4 - verso 6). Assim como no enredo do filme “Impacto Profundo”, para quebrarmos os efeitos da omissão de informações é necessária uma atitude proativa, buscando verdades e divulgando-as para conhecimento geral.  

A grande realidade é que estamos caminhando para uma situação irreversível, o cenário de degradação da Terra é evidente, e a cada dia se acentua. O aquecimento global já é uma realidade; o derretimento de geleiras aponta para o aumento do nível dos mares, com desaparecimento de cidades litorâneas; a falta de água potável começa a ser percebida, trazendo como consequência a carência de alimentos. Segundo o Mapbiomas, 281 milhões de hectares de áreas verdes foram degradados desde 1.500.  Claro que as autoridades têm conhecimento de tudo isso, mas a prioridade é a economia, embora saibam da possibilidade de ocorrência de uma hecatombe, mas mesmo assim omitem a verdade.

Como um vírus mortal, a omissão, a desinformação ou a informação deturpada, grassa por todos os ambientes. A religião, que deveria desempenhar um papel agregador de princípios e responsabilidades, ingressou por um caminho de interesses financeiros; as empresas, em busca de maior lucratividade, manipulam produtos para reduzirem custos e criarem dependências, devastam a natureza, poluem rios e mares, comprometem a camada de ozônio.

O Barão de Itararé (1895 – 1971), jornalista brasileiro, já dizia: “A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana”. Na época a televisão era o que havia de mais fantástico em termos de tecnologia; o que diria ele hoje?

Fazendo uma analogia, podemos dizer que o cometa está se aproximando para destruir, não por cima, como no filme, mas sendo gerado dentro da própria Terra, por omissão ou excesso de imbecilidade, numa evidente ação de “introfagia”, o que causará um impacto profundo. Assim, testificando o axiomático, encerro com uma frase de Abraham Lincoln (1809 – 1865), ex-presidente dos Estados Unidos: “O perigo não pode vir de fora. Se houver destruição daquilo que temos, nós seremos os responsáveis”.