Era meados da década de 70, e a Califórnia era, por assim dizer, a capital cultural do mundo naquela época. Sim, Paris era um centro intelectual de grande influência, afinal, pessoas como Jean Paul Sartre e Michel Foucault eram quase tão populares como astros de Rock, arrastando multidões para ouvi-los. Mas lá, na Califórnia, estava acontecendo uma revolução silenciosa, liderada por uma mistura de hippies, cientistas de computador, investidores e visionários de todos os tipos.
Toda essa gente estava absolutamente convencida de que em um futuro não muito distante, as pessoas iam adorar ter um computador em casa. Essas pessoas acreditavam que isso iria mudar o mundo. Mas, do outro lado dos Estados Unidos, na cidade de vermont, onde ficava a sede da IBM, os executivos da empresa pensavam de maneira diferente.
A IBM gozava da confortável posição de maior empresa do ramo de computadores, reputação conquistada à custa de quase 100 anos vendendo material de escritório e computadores para grandes empresas. Os executivos da empresa riam daquelas ideias de computadores pessoais nas casas dos cidadãos. Quem iria se interessar por comprar brinquedos caros, como computadores? O que esses computadores computadores poderiam oferecer de melhor do a televisão já oferecia, em termos de entretenimento? Pode-se dizer que a IBM começou a ser extinta do mercado naquelas reuniões de executivos, em meados dos anos 70. O resto, como se sabe, é História.
Eu também tenho umas ideias meio visionárias. Por exemplo, acredito que é possível traçar um paralelo entre a maneira em que as corporações se comportam e os partidos políticos. Explico.
Partidos políticos, tal como a IBM ou a Microsoft, são organizações. Ora, essas organizações funcionam de acordo com regras, hierarquias, metas, objetivos e por assim dizer, atendem a um determinado “público”. Guardadas as devidas proporções da comparação, um partido político “vende coisas”, como uma plataforma política e disputa a atenção do eleitor a cada eleição.
Claro que são regras diferentes, as regras que governam a escolha de um candidato e a compra de um novo computador, mas as semelhanças são maiores do que podemos imaginar, e creio que alguma de útil podemos tirar ao compreender como estas organizações chamadas “partidos políticos” funcionam.
A política brasileira, de uns tempos para cá, foi sacudida por mudanças tão intensas quanto aquelas que foram responsáveis pelo fim da hegemonia da IBM, lá no fim dos anos 70. No Brasil, tanto a “Direita”, quanto a “Esquerda” tradicionais já se deram conta disso, mas tal como a IBM, não entendem ainda muito bem em que direção este vento de mudança está soprando.
Um dos melhores exemplos disso, ao menos no campo “progressista”, é a atual posição do Partido dos Trabalhadores. Reconhecidamente a maior máquina eleitoral que a esquerda brasileira possui atualmente, o PT está em uma posição, a meu ver, não muito diferente daquela em que a IBM estava no fim dos anos 70, antes da revolução dos computadores pessoais selar o seu destino como fabricante de computadores.
A questão que quero colocar, e acho que merece alguma reflexão é a seguinte: o problema para a sobrevivência de uma organização política como o Partido dos Trabalhadores em um momento como esse, não seria, necessariamente a rejeição travestida em difuso “antipetismo”, mas principalmente a incapacidade que as organizações têm de responder a desafios do “mercado político”, quando estas mesmas organizações transformaram-se em respeitáveis paquidermes burocráticos.
Auto complacência, incapacidade de reinventar-se depois de assegurada a hegemonia de seus mercados são características bem comuns na história do fim de grandes empresas, ao longo da História. Isso geralmente está escrito nos seus obituários, mas geralmente não serve de evidência para que os mesmo erros sejam cometidos no futuro.