Os termos utilizados em economia são normalmente expressos com palavras da língua inglesa. É o caso de “greedflation”, cujo significado é “inflação por ambição”. Seria mais prático utilizar a forma na língua portuguesa, mas no inglês é mais “chique”. Na verdade, o título deveria se “ganância” ou “ambição”.
Existem várias teorias concebidas para explicar a origem da inflação, mas a menos técnica e mais real é a ganância por dinheiro, prática comum perpetrada pelos manipuladores do capital. O conceito de “greedflation” é criticado pelos economistas que defendem os modelos clássicos. A revista americana “The Economist” publicou um artigo intitulado: “A ideia de “greedflation” é uma bobagem”. Segundo a matéria publicada, a inflação atual nos países ricos é resultado de erros na política econômica. É natural que as empresas busquem maximizar seus lucros, e culpá-las pelo aumento dos preços seria misturar causa e efeito, diz a reportagem. Mas, pergunto: isso não seria ambição?
Nos processos de troca, que envolvem compra e venda de mercadorias e serviços, dois fatores são preponderantes para a fixação do preço: custo e lucro. O custo é definido pelos valores dos insumos necessários à obtenção do produto ou serviço, inclusive os tributos diretos; o lucro é a remuneração do agente produtivo que é a empresa. Quando este agente encontra espaço para ampliar seus lucros, ele o faz elevando o preço, movido por um sentimento de ambição, independentemente de qualquer sentimento de compaixão para com os consumidores. Reportagens que foram feitas cobrindo a catástrofe que atingiu a cidade de Petrópolis há alguns anos, mostraram comerciantes cobrando até cinco vezes mais por um galão de água mineral. Bertrand Russell (1872 – 1970), matemático e lógico inglês, é autor de uma frase que diz: “É a ambição de possuir, mais do que qualquer outra coisa, que impede os homens de viverem de uma maneira livre e nobre”.
No estudo das Teorias Econômicas é apontada como uma das causas da inflação o “conflito distributivo”, espécie de comportamento em que os elementos envolvidos tentam levar vantagem uns sobre os outros, isto é, quando as empresas querem obter mais lucros, trabalhadores reivindicando maiores salários e o governo buscando arrecadar mais. No final, perdem os consumidores, pois só restam-lhes pagar.
Esopo (620 a.C. – 564 a.C.), escritor grego, na fábula A Galinha dos ovos de ouro registra o seguinte texto: “Pensando em conseguir de uma só vez todos os ovos de ouro que a galinha poderia lhe dar, ele a matou e a abriu apenas para descobrir que não havia nada dentro dela”. Exemplo clássico de ganância, que nos conduz a um conhecido ditado: “quem tudo quer, tudo perde”.
Atualmente, não nos faltam exemplos de condutas condenáveis, praticadas em nome da ganância e ambição. Postos que adulteram combustíveis; embalagens de produtos com menor quantidade do que a indicada; fomento de guerras para vender armas; disseminação de doenças para aumentar procura por medicamentos, e inúmeras outras formas de alargar lucros à custa do sacrifício do consumidor. E o que não falar dos governos? Ávidos por maiores arrecadações aumentam os tributos sufocando o combalido contribuinte. Não é sem razão que o animal símbolo do Imposto de Renda é o leão, em função da sua extraordinária bocarra.
Encerro com uma citação de Stephen Hawking (1942 - 2018), físico e matemático inglês, que disse: “A poluição, a ganância e a estupidez são as maiores ameaças ao planeta”.