Em 1964, a socióloga britânica Ruth Glass (1912 – 1990) usou pela primeira vez o termo “gentrificação” na sua obra “London - Aspects of Change”, onde analisou mudanças na organização espacial da cidade de Londres. O termo se refere a um processo de transformação de áreas urbanas, que leva ao encarecimento do custo de vida e aprofunda a segregação socioespacial nas cidades. Além disso, modifica a paisagem urbana e o perfil social dos bairros, provocando sua valorização mercadológica e, consequentemente, a expulsão de antigos moradores.
O fenômeno é facilmente observado em muitas cidades. Aqui em Cabo Frio vimos o êxodo de moradores do Centro para o bairro São Cristóvão, quando a área central começou a sofrer acentuada valorização face ao desenvolvimento do comércio. Os primitivos moradores recebiam ofertas por seus imóveis, vendiam e iam para a periferia. Aliás, a descaracterização do Centro, que compunha um acervo de prédios históricos, foi o maior crime perpetrado pelos gestores da época. Como exemplo, a Rua Érico Coelho, que na década de 50 era ocupada exclusivamente por residências, hoje substituídas por lojas comerciais.
Isso ocorre por falta de um planejamento urbano, e a falta deste enseja o surgimento das favelas, entendendo, aqui, esta palavra como o termo usado para definir assentamento urbano, densamente povoado, caracterizado por moradias precárias. O que há de mais danoso para uma cidade é a especulação imobiliária.
A filósofa socialista americana Ângela Davis assim se manifestou sobre o tema: “Nós nos dedicamos à resistência coletiva. Resistência contra a bilionária especulação imobiliária e sua gentrificação. Mas sabemos que é uma luta inglória contra o capitalismo, muito embora algumas cidades pelo mundo tivessem tomada iniciativas no sentido de reverter esta situação, como Barcelona, na Espanha, que permanece firme em sua luta contra os processos especulativos e a gentrificação, que atualmente estão aumentando a desigualdade de oportunidades que a população encontra para acessar uma moradia digna e economicamente viável. Foi criada a Comissão de Ecologia, Urbanismo e Mobilidade da cidade de Barcelona, que aprovou inicialmente dois novos instrumentos urbanísticos para abordar o problema do acesso à moradia digna e proteger o equilíbrio social dos bairros.
David Harvey, geógrafo britânico, é autor da frase: “Cidades são para as pessoas, não para o capital”, e ele completa: “Atualmente, quando um presidente diz que o país está indo bem, ele quer dizer que o capital está indo bem, mas as pessoas estão indo mal”. Consoante o pensamento de Harvey, a gentrificação gera como consequência a segregação socioespacial das cidades e o aumento da desigualdade social, pois ocasiona aumento do custo de vida, além da redução de áreas verdes e comprometimento da infraestrutura. Realidade sintetizada pela frase de Voltaire (1694 – 1778): “Encontrou-se, em boa política, o segredo de fazer morrer de fome aqueles que, cultivando a terra, fazem viver os outros”.
Na cidade do Rio de Janeiro, quando houve a intervenção oficial, despejando os cortiços, os moradores se deslocaram para os morros, constituindo as primeiras favelas do município, com todos os aspectos de segregação social.
Um dos efeitos comuns na gentrificação é o processo de segregação socioespacial vivenciado em áreas urbanas, caracterizado pela valorização acentuada de determinada área, culminando com o êxodo dos moradores antigos em razão da elevação dos custos, atração de empresas, entre outros.
Este problema pode ser resolvido mediante um planejamento urbano, que certamente minimizará o impacto dessas intervenções.
Encerro com a frase do filósofo e sociólogo alemão Karl Marx (1818 – 1883): “A história se repete, a primeira vez como tragédia, e a segunda como fars