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Coluna

Fake news

16 janeiro 2024 - 17h08

É uma prática, aqui no Brasil, a incorporação de estrangeirismos na nossa tão bela língua portuguesa.  Termos como bike, gospel, funk, shopping, show, entre tantos outros, inclusive o conhecidíssimo ok, fazem parte do nosso vocabulário coloquial, não constando nos dicionários de português. Se o termo estrangeiro “gospel” é utilizado para classificar um grupo religioso cristão, “fake news”, demonizado, caracteriza uma notícia falsa, que, qual um câncer, se espalha através dos meios de comunicação, principalmente as mídias sociais, disseminando julgamentos enganosos. Luiz Fernando Veríssimo, escritor e romancista brasileiro, disse certa vez: “Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data”. A chamada grande imprensa, também conhecida como quarto poder, exerce muita influência sobre as massas. Informações distorcidas e tendenciosas manipulam a mente dos leitores ou ouvintes, levando-os a assumirem posições políticas e sociais equivocadas em relação a determinadas pessoas ou grupos. 

Mas isso não é coisa nova, em 30 de outubro de 1938, Orson Wells (1915 – 1985) ator e diretor norte americano, produziu um programa radiofônico encenando a “Guerra dos Mundos”, causando pânico na população da costa leste dos Estados Unidos, que acreditou no que estava sendo apresentado. No dia seguinte os jornais noticiaram em manchete: “Fake radio war stirs terror through U.S.” (Falsa guerra de rádio provoca terror nos Estados Unidos). Sigmund Freud (1856 - 1939), psiquiatra e escritor austríaco, disse: “As massas nunca tiveram sede de verdade. Elas querem ilusões e não vivem sem elas”.

Lembro que certa vez estava em Buenos Aires, Argentina, numa viagem turística, e recebi uma ligação telefônica de parentes que estavam no Brasil, preocupados, pois a imprensa noticiava a ocorrência de conflitos violentos no centro daquela cidade. Fiquei surpreso, pois nada vi acontecendo, a não um ser um caso isolado, sem repercussões internas para o país. Um clássico exemplo de manipulação de massa pela imprensa. 

Hoje, com o desenvolvimento tecnológico, a checagem de informações é mais rápida, mas não tem impedido a disseminação das fakes news, que viralizam pelas mídias sociais, como Facebook, Instagram, WhatsApp e outros meios. Uma agravante nos aterroriza, pois uma notícia falsa, vista por dez pessoas, quando desmentida é percebida por apenas uma. Bertrand Russel (1872 – 1970), matemático e filósofo inglês, é autor da frase: “A maioria dos maiores males que o homem infligiu ao homem, veio do fato de as pessoas se sentirem bastantes certas de algo que, na verdade, era falso”.   A própria história, ensinada por décadas através dos livros escolares, vem sendo refeita em função da constatação de falsidades na sua transmissão. Heróis que não foram tão heróis; fatos deturpados e tendenciosos; exaltação de vultos que não tiveram tanta importância, entre outras ocorrências que vêm sendo realinhadas pelos novos conhecimentos e descobertas. Napoleão Bonaparte (1769 – 1821), estadista francês, já dizia: “A história é um conjunto de mentiras sobre as quais se chegou a um acordo”.

Estamos entrando em um ano eleitoral, quando a disputa pelo poder despe candidatos de pudores, levando-os para o vale tudo. Propostas e projetos são deixados de lado, dando lugar às ofensivas de desmoralização dos adversários, através da disseminação de ofensas e notícias falsas, utilizando a chamada Demagogia Digital. É assim em todo o mundo, o que levou o ex-secretário de defesa norte-americano, Henry Kissinger (1923 – 2023) a cunhar a frase: “Na política a verdade não é importante; o que conta é o que as pessoas percebem como verdade”.