Há pouco tempo atrás tivemos manifestações de rua e um grande clamor político decorrente do projeto encabeçado pelo legislativo nacional de redistribuir os royalties do petróleo e, com isso, atingir de forma mortal as finanças dos estados produtores. À época, escapamos de perder os dedos, ficando a perda apenas nos anéis, contando com o veto da presidente Dilma e com as intervenções no âmbito do judiciário.
Mas ao que parece, na campanha a presidente deste ano tudo será diferente caso Marina Silva vença as eleições. Em recente declaração à imprensa, a candidata fala com a maior naturalidade da sua aprovação e desejo de redistribuir os royalties sem demonstrar o menor constrangimento com os estados produtores, que seriam levados progressivamente à bancarrota completa em menos de dez anos. As perdas podem alcançar em um ano quase dois bilhões de reais.
O desprezo da candidata para com o Rio de Janeiro faz ecoar na lembrança os discursos inflamados dos deputados, em tempos não tão distantes, a esculhambar nosso estado em cadeia nacional, num ódio espumante e incontido que ainda não cicatrizou muito bem. Seria mais uma demonstração oportunista de Marina para angariar votos, na linha do “concordo com todo mundo”?
As alegações de que nosso estado aplica mal os recursos, ou mesmo a corrupção que fica impregnada nas estruturas políticas municipais com relação aos royalties não se justificam como argumento. É a solução estabanada de acabar com a doença matando o paciente. E quem nos garante que uma corja de novos/velhos ladrões pelo Brasil afora já não estaria salivando pelos recursos?
Na verdade, além das más intenções explícitas com relação aos estados produtores de petróleo, Marina pretende colocar de modo covarde a sua adversária direta, a presidente Dilma, numa armadilha retórica. Quer forçar a presidente a reassumir seu compromisso com os estados produtores e com isso a colocar em posição fragilizada perante a federação. Marina, por sua vez, não tem cerimônias em lançar um discurso irresponsável e oportunista, que não pensa a federação e sim as urnas. Quer, sobretudo, a adesão eleitoral do norte/nordeste, nem que para isso tenha sacrificar o Rio de Janeiro e o Espírito Santo.
Resta saber se os incautos da classe média pseudo-intelectualizada continuarão a enxergar tudo isso como “nova política”. Quando os empregos se forem, quando a violência explodir de vez, quando doer no bolso ou na barriga dos nossos filhos e com uma presidente jogando contra, só restará o silêncio envergonhado