O debate acerca das vaias e hostilidades da torcida brasileira à presidente Dilma Roussef tem se estabelecido em torno da legitimidade, uso político ou simples falta de civilidade ou educação. Entretanto, é preciso um olhar um pouco mais atento.
Os defensores da presidente, além da alegação da justificável falta de respeito, tem batido na tecla de que as vaias partiram das elites que pagam caro para assistir aos jogos. Belo exemplo de incoerência. Afinal, a copa não era para o povo? O povão mesmo? Não... Claro que não. Uma parte apenas da população pode pagar caro para assistir aos jogos da copa. O restante, acompanha na televisão. Diziam que nas arquibancadas não tinham negros. Mas quase também não os tinham na abertura, além de ser uma justificativa oportunista e que reconhece o que todos sabem, que ainda temos desigualdades econômicas severas e que os governos não fizeram nada muito além de bolsa-família, bolsas diversas, e cotas. São avanços? Sim. Mas é preciso mais.
Ainda assim, esse mesmo povo que vaia e hostiliza, não representa a fina flor da elite do país, ou seja, aquela fração bem pequena de pessoas que ficam com boa parte das riquezas produzidas. Ali estava a classe média, em quase todas as suas colorações financeiras. Ali estava justamente o segmento que ficou prensado desde que se iniciou o processo de longa duração neoliberal, em suas tintas mais ortodoxas com FHC, passando pelo Lulismo e continuando neste, ainda que pouco a vontade no estilo “Dama de Ferro” da presidente.
O aviso, talvez deva ser considerado e pensado. As classes médias sempre foram pintadas pelos intelectuais (que a ela pertencem) como algo conservador, reacionário, quase que envergonhado de si. Enquanto ficamos nesse complexo existencial, temos que pagar caro por tudo que o Estado não oferece direito, além dos impostos cada vez mais caros, e uma renda cada vez mais achatada. Além de assistir a corrupção deslavada ser chamada de “governabilidade”. E votamos como quem faz catarse.
Essa é uma leitura eleitoral da vaia da torcida. Quanto ao xingamento, lamentável, aliás, a presidente poderia fazer ouvidos moucos. Ou consultar as especialistas no assunto, as mães dos juízes.