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Coluna

De quem é a culpa?

Parece ser um consenso que a educação brasileira precisa de modificações profundas.

11 junho 2017 - 14h53

Parece ser um consenso que a educação brasileira precisa de modificações profundas. Tenho lido e ouvido bastante a respeito e os argumentos que me chegam parecem ser ao mesmo tempo válidos na concepção, mas injustos na forma.

Válidos porque é um fato consumado que o modelo de escola brasileira faliu frente às demandas da contemporaneidade. É necessário, senão urgente, a construção do pensamento educacional brasileiro, o que teoriza, cria e soluciona suas demandas a partir da sua realidade, tendo por base o lastro da ciência. O que teimosamente fazemos é o inverso, pois vivemos de releituras e adaptações das inteligências estrangeiras. É preciso romper com a vassalagem acadêmica. Do mesmo modo, não cabe mais o professor que temos. Ele precisa dominar as diferentes ferramentas tecnológicas e, além delas, dominar primeiramente as humanísticas, ou seja, assumir que seu fazer não se restringe meramente a transmissão de um conteúdo (isso qualquer site de busca faz com maior talento), mas a de encantar seu aluno ao oferecer a ele as chaves do como conhecemos, e de todos os componentes e experiências que nos fazem humanos.

Mas aí vem o lado injusto dessas constatações. A enxurrada de críticas acerca da escola, das aulas e do professor, quando decantadas em seminários, palestras, textos e seus congêneres, colocam a questão como algo a ser solucionado pelo ato e vontade do professor. Talvez seja por isso que nosso país progride a passos de cágado e toda e qualquer evolução se restrinja a clubes acadêmicos, círculos quase herméticos. O que os iluminados não lembram é que para ser bom não basta vontade. É desonesto culpar o trabalhador como se ele não tivesse vontade de progredir. É desonesto colocar todo o peso do progresso e da inovação nas costas de quem tem tão pouco para dar o start a tudo isso.

A injustiça, e prefiro considerar dessa forma para não pensar em desfaçatez, é sequer considerar que o aspecto principal para o desenvolvimento ou mesmo a transformação das nossas relações educacionais passa pela base material. Se tivéssemos unidades escolares em quantidade satisfatória, todas muito bem equipadas e concebidas, com salários justos e atraentes e distribuição de carga horária que contemple todas as dimensões do fazer educativo , aí sim eu poderia fazer coro aos que falam da culpa ou da necessidade de mudar como algo intrínseco e exclusivo a vontade dos docentes. Mas a crítica de maior volume parte, quase sempre, de quem deveria estar concedendo essa base. Mas não concedem e preferem transferir a responsabilidade das inovações ao exaurido professor.

Duro é ver o professor pago para falar isso para outros professores (e fica claro que é como um ator, um intérprete do que não vive). Duro é saber que a mudança é uma condição de empregabilidade na qual você oferta o novo e recebe o velho mínimo. Duro é constatar que nossas gerações vão sendo prejudicadas , sobretudo as das classes populares.

Mas se tudo der errado, culpe o professor. E se der certo, enalteça o modelo.