Como tudo ou quase tudo se tornou uma manifestação de cultura e pensamento, fica difícil definir dentro de um contexto de liberdade de expressão o que é ou não socialmente conveniente.
Isso se reflete nas manifestações de ódio e intolerância, algo tão recorrente nas redes sociais quanto na vida real, onde as mazelas do preconceito ainda insistem em ganhar contornos de uma inocente comédia, a da vida do outro é claro.
Longe de advogar um moralismo estrito não estaríamos, contudo, tolerantes demais quando damos toques gourmet a coisas como o recente hit do momento, o tal da “surubinha de leve”? Para essa e várias outras concessões que transformam drogas, bebidas e comportamentos em bens de consumo desejáveis e identificáveis, só nos resta assistir com espanto a desvalorização e a vulnerabilidade cada vez maior dos segmentos já tradicionalmente mais sensíveis a esse processo.
O mais curioso é que se nos alongarmos numa palhinha antropológica vamos notar que as famílias são as maiores facilitadoras de todo esses acontecimentos pela simples e direta inércia da indiferença. O crescimento das “festinhas sociais” em casas particulares ou em conhecidos “night clubs” onde menores consomem sem nenhum tipo de constrangimento bebidas, drogas e experimentam os roteiros sexuais musicados pelos novos arautos de um execrável segmento da música funk, tudo isso devidamente registrado e compartilhado de modo viral pelos grupos de whatsapp, com a total e irrestrita anuência dos pais/responsáveis , são sintomas de que estamos diante de uma geração de abandonados.
E para ficar ainda mais no clima da relatividade pós-moderna, estamos vendo muitos desses jovens tanto nesses ambientes quanto em grupos de igrejas. Ou seja, será que as famílias transformaram a realidade dos filhos em uma rotina de despachos para que possam seguir “sem culpa” com suas próprias vidas?
No fim das contas, vem o tão esperado carnaval com todos os excessos que lhe são típicos e favoráveis. Mas ele não seria tão preocupante se fosse apenas o que sempre foi, a catarse de uma sociedade sufocada pelo moralismo religioso, mas esse é um tempo que não mais existe. Hoje há uma liberdade que nos intoxica, não oferecendo nenhuma resistência, nenhum limite ou um freio à boca para quando transformam a ética em um discurso utilitário.
E olha que ainda teremos eleições e não causa nenhum espanto que esses mesmos jovens “de leve” sejam os mesmos que levantam a carregam a bandeira da violência como solução social, do preconceito como instrumento didático e do simplismo da aceitação acrítica da desigualdade como algo natural. A tal “turminha do mito”...
É torcer pelo menos para não rolar mais um surto nacional de febre amarela. Pelo menos isso para 2018...