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Casa da mãe joana

23 janeiro 2025 - 16h21

Um lugar ou situação em que predomina o vale tudo – falta de ordem; balbúrdia; falta de respeito – recebe uma classificação conforme uma expressão na língua portuguesa: casa da mãe Joana. Esse bordão teve origem no século XIV, graças à rainha de Nápoles e condessa de Provença, Joana I, que viveu entre 1326 e 1382.  Em 1346 Joana se mudou para Avignon, na França, em razão do seu envolvimento em uma conspiração que resultou na morte do seu marido, o príncipe Andrew. Outras correntes históricas contam que ela foi exilada pela Igreja em razão de viver de uma forma sem regras e permissividade.

Em 1347, com 21 anos, Joana normatizou os bordéis da cidade onde vivia refugiada, criou regras para impedir que alguns frequentadores agredissem as prostitutas e saíssem sem pagar. Com isso, as meretrizes a tinham como uma mãe, o que redundou em os bordéis serem chamados de “casa da mãe Joana”.                                           

Em Portugal, utilizava-se a expressão “paço-da-mãe-Joana” para identificar um bordel. A expressão chegou ao Brasil, e, como a palavra “paço” não era usual para designar prostíbulo, foi mudada para “casa”, ficando a expressão “casa da mãe Joana” utilizada para designar o lugar onde cada pessoa fazia o que quisesse, sem respeitar quaisquer tipos de normas.   

A expressão, inclusive, deu origem a um filme nacional lançado em 2008, dirigido por Hugo Carvana, tendo como atores José Wilker, Pedro Cardoso, Paulo Betti, entre outros. Este filme relata a história de três amigos que dividem um apartamento de classe média e que mantêm um estilo de vida excessivamente alegre e sem regras. Para não perder o imóvel, que está hipotecado, pensam em voltar a trabalhar, até que surge a ideia de praticar um golpe, criando várias situações numa autêntica “casa da mãe Joana”.

Hoje, utilizamos o termo para capitular qualquer tipo de comportamento em ambiente sem ordem, onde as pessoas fazem o que querem. É comum ouvirmos alguém questionar: “você pensa que aqui é casa da mãe Joana”?

 Num outro viés, lembramos que a Constituição Brasileira estabelece que os atos dos agentes públicos precisam ser pautados pelos princípios da Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência, curiosamente conhecidos pela sigla “LIMPE” e, confrontando com a realidade, podemos dizer que fizeram do nosso País a “casa da mãe Joana”, pois na maioria das vezes não encontramos moralidade; impessoalidade é quase uma utopia; publicidade, só daquilo que interessa; e a eficiência passa longe, basta ver o custo da máquina pública. Mas essa situação é antiga e não restringe-se somente ao Brasil, basta rever o que disse o filósofo e escritor francês Paul Valéry (1871 – 1945): “Se a regra é a desordem, pagarás por instituir a ordem”.

Muitos servidores, ancorados na segurança da estabilidade funcional, assegurada pela legislação, assenhoreiam-se da coisa pública e fazem o que bem entendem, agem como se fossem donos. Atendimento cortês, assiduidade, eficiência na execução das tarefas, demonstração de conhecimento na resolução de problemas dos contribuintes, são coisas raras de serem vistas, em todos os níveis da Administração Pública. 

Por isso encontramos processos que levam meses, às vezes anos, para terem uma solução. Isso para não falar no usual processo de incremento de receitas via aumento da carga tributária. É muito mais fácil mexer no bolso do contribuinte do que buscar eficiência via economicidade. Não foi sem razão que o ativista político estadunidense Martin Luther King (1929 – 1968) disse: “A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todos os lugares”.