A gente constrói arenas luxuosas para jogar o velho futebol. Tem cadeiras numeradas para todas as bundas delicadas, porta copos para todos os sedentos de plantão, cinzeiros para os diversos tabagistas incontidos, banheiro de shopping com espelhos de bordas infinitas e claro um ingresso que não cabe nas margens estreitas do salário mínimo corrente nos bolsos da parte mais caudalosa da torcida. Ainda assim alguém corta, coloca num saco, dribla os seguranças, leva até a arquibancada e, sem deixar rastros digitais nas inteligentes câmeras de 4K, lança uma cabeça de porco no gramado a fim de zombar do adversário cujo mascote é um suíno verde.
A bizarrice da cabeça de um animal lançada no campo, em meio ao jogo, ecoa tudo que o futebol traz de sua origem popular: a algazarra, a galhofa, a zombaria, a atitude sarcástica e delirante capaz de ultrapassar todas as barreiras da etiqueta e até assustar. Foi assim no passado com urubus saltitantes da geral ao campo do Maracanã. Com peixes arremessadas das arquibancadas de uma Vila tão famosa quanto sua própria majestade.
A cabeça do porco lançada no campo da Neo Química Arena pela torcida do Corinthians em alusão ao adversário Palmeiras, não é o que de melhor há no futebol. Mas nos faz pensar sobre o que as arenas e o padrão FIFA tirou de nós enquanto torcedores.
O futebol não acabou como dizem aqueles que não gostam do VAR. Ele mudou. A propaganda diz que é para o conforto de quem vê o jogo. Eu suspeito que seja para facilitar os trâmites de quem ganha dinheiro.