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Brasil com Z

26 dezembro 2024 - 17h23

A forma não é novidade, pois, entre os anos 1871 e 1920, a grafia da palavra Brasil era efetivamente com Z. Mas sinto que estamos prestes a voltar ao antigo padrão, dada à americanização da nossa língua. Não somente os estrangeirismos vêm maculando-a, como também os neologismos, que a tem desfigurado a cada dia, alguns inclusive de péssimo gosto. Soma-se a tudo isso a infame prática de se abreviar palavras, hábito dos que utilizam o WhatsApp.  Fernando Venâncio, escritor e linguista português, autor do livro “Assim nasceu uma língua”, afirma que não há maneira de retroceder, não há maneira de travar esse processo de afastamento entre o português e o brasileiro. Diz ele que em alguns anos o idioma falado no Brasil se chamará “brasileiro”, que se constituirá de uma miscelânea de expressões das mais variadas origens. 

O romancista e jornalista brasileiro Aluísio Azevedo (1857 – 1913) disse certa vez: “Quem conhece o nosso idioma, está farto de saber que em beleza não cede ele o passo a nenhum outro, nem se pode conceber língua mais rica, mais harmoniosa, mais literária e enfim mais completa. Nada disso, porém, impede que ela seja infelizmente pouco lida, e, por conseguinte, obscura”. Recordo que no início de cada período letivo, tinha por hábito fazer uma pesquisa junto aos meus alunos a respeito de quantos livros haviam lido no último ano. Poucos haviam lido algum livro. Isto explicava a grande dificuldade que tinham em escrever e se fazerem entender quando tinham que responder questões dissertativas.

Quando passamos para o ambiente empresarial, o problema se agiganta. Uma das cadeiras que lecionei, ao longo dos anos de magistério, foi Marketing, um apêndice instrumental da Administração de Empresas. Apesar de precisar utilizar termos em inglês, fartos no ensino da disciplina, sempre me insurgi contra essa prática. Vemos atualmente a expansão desse uso, que se incorpora ao nosso vocabulário de forma aparentemente natural. Expressões como: “Coach” – por que não dizer treinador?; “Commodity” – por que não dizer matéria-prima?; “Dealer” – por que não dizer   distribuidor? E assim tantas outras, fazendo com que nossa língua pátria se desligue da sua forma original.

A informática também tem contribuído para esse desfazimento das normas cultas da língua portuguesa, falada e escrita no Brasil. Palavras como delay (atraso), backup (cópia), cookies (pequeno arquivo de textos), e-mail (envio de mensagem), spam (mensagem indesejada), já estão incorporadas ao nosso vocabulário.

Passando para o ambiente popular, encontramos muitas expressões já usuais na linguagem brasileira, como: crush (interesse amoroso), lacrar (ter destaque), treta (briga, confusão), camelo (bicicleta), caô (mentira), sextou (chegada do fim de semana, sexta feira) etc. Temos, entretanto, que fazer a distinção entre o que é “calão”, linguagem grosseira; “jargão”, gíria profissional e “expressão popular”, que são as originárias do povo.

Mas a linguagem não está sozinha nessa desfiguração da cultura nacional. A falta de personalidade, de uma identidade própria, tem feito com que sejamos reconhecidos como uma colcha de retalhos em termos de sociedade, economia; e até na área de ensino, temos nos comportado como copiadores de modelos e métodos que nem sempre são os ideais para nosso povo.                                                                                           

Nesta vertente, fico com uma frase do empresário Abílio Diniz: “As pessoas podem copiar tudo o que a gente faz, mas não o que a gente é. Encerro com uma frase que ouvi certa vez: pode copiar, só não faz igual, pois nem toda inspiração precisa de um CTRL+C e CTRL+V.