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Big Brother

E lá vamos nós com mais uma temporada do controverso Big Brother Brasil. Com isso, imediatamente as redes sociais serão povoadas de análises as mais diversas. Por isso mesmo, também resolvi colocar de uma vez a mão nessa cumbuca. 

20 janeiro 2015 - 21h19

E lá vamos nós com mais uma temporada do controverso Big Brother Brasil. Com isso, imediatamente as redes sociais serão povoadas de análises as mais diversas. Por isso mesmo, também resolvi colocar de uma vez a mão nessa cumbuca. É tentador utilizar um “Filtro Cult” para falar do programa, batendo na tecla clássica da alienação e no perfil popularesco e vazio de conteúdo. Mas é aí que mora o problema. O Big Brother Brasil é um grande sucesso. Engana-se quem pensa que apenas as camadas sociais menos escolarizadas e os marombados e marombadas de plantão formam o seu público. Não. Ele tem a capacidade de atingir a diferentes níveis intelectuais e econômicos, graças ao modo como foi estruturado, ou seja, é um fenômeno social.

Olhando por esse prisma, podemos explicar o sucesso e a adesão por alguns fatores que considero os mais importantes. Em primeiro lugar, é um programa que explora os problemas a que todos nós nos submetemos em diferentes níveis no cotidiano e, o principal deles, a convivência com a alteridade. Ali nos vemos no trato com o outro e toda a sorte de adaptações que temos que fazer para tolerar hábitos, crenças e atitudes. Em segundo lugar, a linguagem é simples. O drama existencial de cada um e os estratagemas que vão garantindo sua permanência na casa não são diferentes dos nossos. Usar de alianças provisórias, falsidade, manipulações ou até mesmo da sinceridade e da solidariedade, são práticas que em nada diferem das que usamos na vida cotidiana, no trabalho, em casa, na busca pelo prêmio da sobrevivência diária. É claro que uns procuram pautar esse jogo por um ou outro viés, a verdade e a mentira, temperando o percurso.

O poder que é conferido aos que assistem de decidir sobre a saída ou permanência dos participantes é de profundo significado simbólico. O programa, no sentido mais subjetivo, oferece na verdade o poder da vida e da morte. Quem não gostaria de num simples click de um botão “eliminar” do seu contexto os que incomodam, atrapalham ou que se colocam como nossos adversários? Já não fazemos isso nas redes sociais com exclusões e bloqueios? É como brincar com atributos divinos.

E para isso, é preciso buscar a adesão do auditório. Não é uma tarefa simples, já que o programa cria seus personagens como algo próximo a arquétipos. E aí vão os sarados e saradas desbocados, briguentos e de precária intelectualidade; os que representam segmentos sociais historicamente estigmatizados, seja pela cor da pele, preferência sexual ou origem econômica; Um ou outro integrante que encarnaria o “tipo comum”, nem bonito, nem feio, nem ignorante, nem gênio, apenas comum em tudo. Completa a escalação um ou outro com pinta de erudito, algum zen, um fora de forma bem resolvido ou um interiorano com forte sotaque. Cada um deles representa um caminho, uma possibilidade que nós, aqui de fora do jogo milionário, também escolhemos para dar sentido a nossa caminhada. Resta saber qual deles vai nos convencer que merece ser o grande vencedor, quantos iguais e simpatizantes conseguirá para si, capazes de se dar ao trabalho de telefonar e usar do divino brinquedo para eliminar seus concorrentes.

Eu não gosto do programa. Mas também não acredito que os milhões de telespectadores se configurem num exército de imbecis. A mim basta a vida real. Ela já tem tudo isso e mais um pouco. Só me dá mesmo uma pontinha de ciúmes, já que no nosso jogo de cada dia não temos um milhãozinho dando sopa...