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Coluna

Ativismo seletivo

Quando o assunto é catástrofe, seja ela provocada pela força da natureza ou pela ignorância do ser humano, torna-se difícil um juízo de gravidade. 

21 julho 2014 - 23h04

Quando o assunto é catástrofe, seja ela provocada pela força da natureza ou pela ignorância do ser humano, torna-se difícil um juízo de gravidade. A perda de vidas não encontra uma gradação, um ranking no qual possamos avaliar o que foi melhor ou pior. Perda é sempre perda. Entretanto, é revelador o jogo de silêncio e dissimulação por parte das nações desenvolvidas, sobretudo as do eixo Europa-Estados Unidos, com relação ao genocídio promovido na região palestina. A atenção das potências ocidentais está concentrada no litígio entre a Ucrânia e a Rússia, que teve aparentemente como saldo, os passageiros mortos no avião comercial abatido, ao que tudo indica, por um míssil terra-ar. Não que essa catástrofe também não mereça as atenções da humanidade. Merece e muito. Entretanto, é reveladora a mobilização oficial dos países, da imprensa internacional e da opinião pública seletivamente em torno desse fato, e a zona de sombras e silêncios que se fazem em torno das centenas de mortos pela ação desproporcional do exército israelense na Faixa de Gaza.

O “ativismo seletivo” dos Estados Unidos e demais potências, torna-se evidente. Quando seus aliados cometem genocídio contra mulheres, crianças e demais população civil, usam-se artifícios retóricos para falar em “danos colaterais”, ou que os adversários (ou seja, quem eles querem que sejam os bandidos da história) utilizam a população como “escudo humano”.  Com esse argumento, brindam a opinião pública com a justificativa daqueles que podem ou não morrer. Ou com quem devemos nos importar. As fotos do massacre na Palestina ganharam as redes sociais. Pela primeira vez olhamos o que até agora ninguém mostrou. As crianças massacradas, as comunidades arrasadas, o desespero e a destruição.

E muitos ainda tentam suavizar ou relativizar o fato, dizendo que o problema é milenar. Não é. Em especial ele começa em 1948, quando o antigo protetorado britânico da Palestina, habitado majoritariamente por árabes, passou arbitrariamente a abrigar um enclave, projetado artificialmente para ser o novo Estado de Israel. Um último resquício imperialista de definir a priori onde alocar populações. Claro que ainda sob comoção do holocausto e dos problemas causados pela diáspora nazista. Como tudo o que é feito a revelia da história, os conflitos regionais surgem e o que antes era um enclave, hoje é um território preponderante que, inclusive, define as zonas de ocupação dos antigos habitantes árabes, outrora hegemônicos na região.

Ou seja, ainda teremos muito silêncio e muitas distorções sobre o que acontece nas zonas do mundo que não interessam ao grande capital, que não estejam sob a balança da geopolítica, ou que sustentem os interesses dos aliados dos poderosos. Só não podemos fingir que não estamos vendo.