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Coluna

Aquele que não deve ser nomeado

26 março 2021 - 17h06

Não acredito que vou falar sobre isso aqui, mas acho que não dá mais pra controlar. Minha cidade está entrando no processo de redução de horários por causa da pandemia, de novo, como em muitas outras. Sendo que, antes disso, haviam liberado bares, restaurantes e até boates a abrir, seguindo as regras, com música ao vivo, até uma da manhã. E, agora, podem funcionar apenas até 22h. Ok, mas qual é o problema disso tudo? Na minha visão, está sendo feito um “oito ou oitenta” que prejudica todos os empresários. Eu sou totalmente a favor de já terem feito isso há muito tempo atrás. Falta de aviso não foi, né? Mas houve uma relaxada absurda por aqui. Não só os bares e boates estavam abrindo, como estavam abarrotados de gente, sem máscara, como se fosse um dia normal na vida. E onde estava, nesse momento, a fiscalização? 

Quando algum tempo atrás essas “regalias” foram estabelecidas, era necessário que se fizesse uma superfiscalização por todos os bairros da cidade. Tanto para multar ou para dispersar as pessoas. E fazer valer o uso das máscaras e do afastamento. Nada disso foi feito. Praticamente todos os lugares estavam absurdamente cheios. E os poucos que seguiram as regras, hoje, estão quebrando, por exemplo. Cria-se uma guerra. Precisa-se ganhar dinheiro de alguma forma, pagar as dividas que foram feitas no primeiro momento da pandemia, comer, se manter, o mínimo. Porém, a maior parte dos empresários, que agora estão sendo fiscalizados de alguma maneira (de” forma 80” dessa vez), critica a postura dos governantes. Querem “justiça” fechando todo o comércio, já que o horário até 22h prejudica apenas quem trabalha durante a noite. 

Mas aí aparece outra pergunta. Em qual estabelecimento diurno, sejam lojas, lanchonetes, mercados ou bancos, foi vista tamanha aglomeração desenfreada sem seguir nenhuma regra como nas boates e bares? Friso aqui a minha solidariedade a todos os comerciantes e pessoas que precisam trabalhar para se sustentar, e friso ainda mais que sou cantora e preciso deles funcionando para me sustentar. Mas isso tudo que está acontecendo é uma tremenda falta de organização por todos os governantes, desde presidente a prefeitos. Desde o primeiro mês está tudo errado. Bolsonaro passou a pandemia inteira gastando tempo e dinheiro batendo tecla em remédio sem eficácia comprovada, fazendo pouco caso de uma doença que já matou mais de 300 mil pessoas, dizendo que a eficácia da mascara é duvidosa, atrapalhando e adiando e falando mal de vacinas que podem salvar vidas. Vem a público, na maior cara de pau, falar que o Brasil está entre os países que melhor lidaram com a Covid, e o mundo inteiro desmente. 

As fakenews que esbraveja diariamente não são nem mais passíveis de cálculo. São tantas que deixam qualquer um enjoado. Junto, por exemplo, com todas as vezes que se contradisse como se nada estivesse sendo gravado. Dizer que o presidente do país não gera nenhuma reação à população com suas falas e atitudes é no mínimo ingenuidade ou ilusão de quem ainda tem coragem de o defender. Apesar dos tantos sites ou blogs de seus seguidores insistirem em tentar abafar ou menosprezar a ciência, os fatos como eles são. E, apesar de todas as tentativas de queimar a mídia e jornalismo sério, não dá para fugir dos números ou mesmo do exemplo dos países que lidaram milhões de vezes melhor com a pandemia, a partir de iniciativas realmente eficazes. Mas, não, vamos acreditar no Blog do Zé Fulaninho porque qualquer meio ou pessoa que seja contra Bolsonaro é automaticamente incluído na lista de comunistas, ‘petralhas’, de uma esquerda burra e suja, que o messias jurou eliminar. Bem como está eliminando todo tipo de ‘corrupção’ e ‘mamata’, principalmente dentro da sua própria família (ironia). 

Não sabemos onde isso vai parar. O Brasil já é considerado o maior gerador de variáveis da doença, continuamos sendo vacinados a passos de formiga e sem vontade, a população não tem nenhum suporte financeiro para poder ficar em casa. Qual o sentido? Não tem como nesse momento não estar com medo, aterrorizado na verdade. Não tem como não pensar que estamos entrando na pior fase do nosso país, seja ela pandêmica ou econômica, regidos por um insano desgovernado e sem noção zero de humanidade. 

A responsabilidade está sim nas costas dele, mas também nas costas de todos os outros responsáveis por tudo que estamos vivendo, sejam eles governadores ou prefeitos. Sejamos nós mesmos que relaxamos quando não era pra relaxar, que deixamos de cobrar e nos calamos. E no jeitinho brasileiro, a população vai morrendo. Para onde estamos caminhando?