As recentes reportagens acerca do suposto envolvimento de candidatos, com ou sem mandatos com a criminalidade tornaram-se um fato social de extrema gravidade. Curiosamente, não sabemos se por influência do medo ou da indiferença, a sociedade se mostra apática e anestesiada ao assunto.
Caso se confirme, mostra a completa e absoluta falência de qualquer mecanismo de controle político e territorial da urbe. Ou seja, se para exercer o direito democrático de escolha, ou mesmo para se transitar ou não pelo espaço urbano ou nele atuar, se faz necessária a anuência do poder paralelo, tudo se desmanchou no ar.
Mostra ainda mais. O como os discursos de moralidade ou pertença religiosa e todos os outros que flertam com os princípios legais são mera peça retórica de tribuna ou de palanque. Na vida política, os santos agem como pecadores e falam como se fossem resolver tudo aquilo que, na prática, os sustentam.
Como a política contemporânea tem uma escala e uma complexidade consideráveis, é questão de tempo que as ações de uns esbarrem nos interesses de outros, ou ainda, o que seria melhor, esbarrem nos interesses do povo. Nesse exato momento, a corda e o cerco vão se apertar justamente no lado apócrifo dessa história, ou seja, a culpabilização dos marginais e o combate exemplar, severo e ostensivo como lição de que a democracia e o estado são maiores e mais fortes. Entretanto, ganha quem aposta que os nomes dos grandes figurões que os aliciam, que operam os “fechamentos”, ou que a eles cedem, serão preservados. Cairão no lugar comum do “denuncismo”, ficarão nas bocas malditas e nos blogs das cidades, mas provavelmente sairão intactos, ou eleitos.
Resta saber até quando os eleitores vão jogar essa perigosa partida. Até quando continuarão a votar, apoiar e endossar tudo isso. Restará saber também até quando o pessoal da “firma”, do “movimento” vai acreditar que terá a cobertura desses mesmos políticos. Na realidade continuarão sendo os bodes-expiatórios de uma sociedade hipócrita. E só.