Agosto. Um mês que carrega estigmas, que carrega rixas, que carrega tópicos, que carrega dias, que me carrega.
Tenho que tomar cuidado pra não deixar minha crônica virar um poema. Explico: sou mais poeta que cronista, mas nada impede que eu faça poesia por aqui, afinal, a poesia não pertence apenas ao poema. A poesia não pertence, ela é. Prometo que conversamos sobre ela depois, ou quem sabe, sempre, mas é que vim decida a escrever sobre agosto. E talvez eu tenha me engendrado pela poesia porque agosto é pra mim poesia.
Não apenas por ser o mês que antes que encerrasse me trouxesse, lá no seu último dia, à vida. Quase setembrando e florindo, agostei. E gostei, sou dada a gostar de neblinas, ainda que traga flores em mim.
O que me afeiçoa a agosto, além dessa atitude natural de amar um mês por ser o do seu nascimento, é justamente o estigma que ele carrega, assim, meio sombrio. Estigma, vejam bem! Agosto é invernoso ainda, mas é ele quem dá chance à primavera. Não gosto de estigmas, nenhunzinho sequer. E, por isso, tenho uma tendência a me afeiçoar ao estigmatizado, ao julgado, ao despadronizado. Sou uma virginiana – nasci ao fim de agosto né? – bagunçadamente organizada, mas não gosto de padrões demais. Tenho dó, tantas vezes, de quem vive procurando métodos e técnicas, e não os incorporando, maleavelmente, às suas possibilidades. Acredito que é só assim que a gente evolui: conhecimentos e verdades experimentadas e moldadas ao que somos ou sonhamos ser.
Agosto, pra mim, também é mês jardineiro, mês em que a gente vai saindo da toca dos nossos pensamentos e sentimentos mais profundos para florescer. Sementes que dormiam, vão brotando e se possibilitando apenas porque puderam dormir, refletir e se fazerem em agosto. Não há primaveras sem invernos. Não seriam tão belas, tão solares, se não passassem pelo cultivo da terra, do frio e do berço que as antecedem. Não há celebrações sem o silêncio e a pausa de antes. Não há alegrias também sem tristezas.
E agosto é bonito viu? Nada de azar ou de mês interminável. Nada de estereótipos. Que tal a gente aprender a apreciar e valorizar o estigmatizado, que tantas vezes nos cega no nosso próprio preconceito? Deixa o espanto do tempo te curar e levantar poeiras conservadas no âmago. Deixa agosto ser janela que vislumbra céus e caminhos vindouros talvez de flores.
Deixa agosto ser livre e celebrável.