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Coluna

Administração de crises

07 junho 2024 - 10h54

Situações desfavoráveis e graves, episódios caracterizados por circunstâncias de difícil superação, são elementos presentes nas crises, que podem afetar todos os gêneros de instituições e pessoas. E nos vem uma questão: como enfrentá-las? Assim como as dívidas, as crises precisam ser administradas. O confronto direto para combater um problema pode ser suicídio, pois em momentos de crise a emoção tira nossa capacidade de pensar racionalmente. Há um dito popular que diz: “Se teu inimigo é mais forte que você, alie-se a ele”.
Frases de efeito, relativas a situações desfavoráveis, são comumente utilizadas no meio popular para rechaçar afrontas, tensões ou conflitos, como: “pode me dar um limão que faço uma limonada”; “com as pedras que me atiram construo um castelo”, entre outras citações.

Há uma história que ilustra o enfrentamento de uma situação desfavorável, que foi administrada com sucesso: conta-se que em certa propriedade rural, um burro caiu em um profundo poço. Foram tentados todos os recursos disponíveis para içá-lo, sem sucesso. Optaram, então, por sacrificá-lo, e da forma mais cruel, jogando terra sobre ele, enterrando-o vivo. E começaram a jogar terra sobre o buraco. Entretanto, à medida em que a terra ia caindo sobre o animal, ele sacudia de sobre o seu dorso e repisava, formando uma nova base, e, gradativamente, com a terra caindo, o buraco foi ficando menos fundo até que alcançou o nível de cima e ele pôde sair sem maiores esforços. A precipitação dos homens se contrapôs à estratégia do burro e a crise pôde ser superada.

Uma das grandes crises enfrentadas pela humanidade nos últimos tempos foi a do “Coronavírus”. Todos tivemos que passar por essa crise, ricos e pobres, muitos perderam, mas quem soube bem administrar, criou oportunidades de se reinventar, sendo esse o lado bom dessa situação. Domenico de Masi (1938 – 2023), sociólogo italiano, foi muito feliz ao dizer: “O Coronavírus está nos ensinando a dispensar o supérfluo, a reconhecer e a privilegiar o essencial. Está nos ensinando que o consumismo é um vírus pior ainda, que nos faz perder o sentido do necessário para nos impor o supérfluo”. 

As empresas enfrentaram esta crise com criatividade, houve o incremento e aperfeiçoamento dos “deliveries”, substituição e atualização de alguns serviços, mudança no acondicionamento de certos produtos, entre outras ideias criativas. Algumas empresas aproveitaram o momento para aumentar suas vendas com produtos de proteção contra o vírus, como máscaras faciais de diversas padronizações, álcool gel, desinfetantes, entre outros.

No segmento educacional o impacto foi profundo, alunos fora de sala de aula, conteúdos deixandos de ser ensinados, comprometimento do ano letivo, o que extraiu de Leandro Karnal, historiador e palestrante brasileiro, o seguinte comentário: “A tendência à escola perder o fetiche da presença já estava marcada. Mas ela continua precisando de bons professores, que preparem bons materiais e desenvolvam uma habilidade a que não foram treinados, como virarem youtubers”.

Na área política as crises são enfrentadas com acordos, muitas vezes até através de conluios, recuos e avanços, sempre administrados, evitado confrontos diretos. Recessão econômica, crise de representação política, reformas institucionais, desajustes e desmontes de projetos, têm sido uma constante no Brasil, que se somam a eventos imprevistos como mudanças climáticas abruptas e a crise da Covid-19. Crises são como tempestades, vêm e vão, sobrevivem os que conseguem administrá-las.

Abílio Diniz (1936 – 2024), administrador e empresário, salienta: “Na crise existem aqueles que se abatem, sentam no chão e choram; e existem aqueles que vão à luta e fabricam lenços para os que estão no chão. Nós somos fabricantes e vendedores de lenços”.