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Coluna

A relatividade da percepção

25 julho 2024 - 16h31

Um conhecido dito popular fala a respeito das três coisas sobre as quais não se deve discutir: política, futebol e religião. Isto se deve ao fato de que cada partidário tem sua convicção e acha que está com a razão, que o que defende é o certo e melhor. Ampliando esta abordagem, perguntamos: como podemos discutir sobre cores com uma pessoa daltônica? Ela vai morrer afirmando que o que vê é uma cor vermelha, mas, na verdade, é a verde, nunca vamos chegar a um acordo. Na visão do daltônico, o que ele enxerga são tons de marrom, verde ou cinza. Porém vai variar conforme a quantidade de pigmentos do objeto focado. A tendência é que o verde pareça vermelho, tipo sépia (cor). Ele está certo em relação ao que vê, quem o questiona também está. Então, com quem está a verdade? Vai depender do lado em que estiver. 

A história universal nos abastece com relatos de pessoas que desenvolveram teorias sobre as quais alimentaram convicções absolutas. Filósofos e matemáticos da antiguidade, como Tales de Mileto, Leucipo e Demócrito, defendiam que a terra era plana; outros, como o astrônomo Galileu, chegaram a morrer por afirmar a esfericidade da terra. Alguns defendiam que o sol girava em torno da terra, outros, o contrário; todos achavam que estavam certos. Bertrand Russell (1872 – 1970), filósofo britânico, relata uma alegoria interessante, que demonstra a relatividade da percepção: “Leões e panteras são inofensivos, mas tome cuidado com galinhas e patos, porque podem ser muito perigosos; disse uma minhoca aos seus filhotes”. A visão de uma ovelha, ensinando seus filhotes, seria radicalmente contrária, diria para temer o leão, ignorando as minhocas.

No meio político, costuma-se justificar determinados posicionamentos, alegando boa intenção. Mas, como diz um ditado popular, de boas intenções o inferno está cheio. O gestor público, em muitas ocasiões, toma decisões achando que é o melhor para o povo, e ele até tem convicção disso, entretanto, na prática, não corresponde às expectativas dos receptores. Por esta razão defende-se que as grandes decisões a serem tomadas por uma autoridade, devem ser precedidas de uma audiência pública para discussão da proposta, quando paradigmas são quebrados e busque-se um consenso

Albert Einstein (1879 – 1955), físico alemão, autor da teoria da relatividade, disse certa vez: “O mundo não será destruído por aqueles que fazem o mal, mas por aqueles que os olham e não fazem nada”. Por mais que nossas ideias recebam restrições, é necessário que sejam expostas e defendidas, mesmo que não aceitas.

Certa vez ouvi uma pergunta feita a um grupo de pessoas: qual das asas de um pássaro é a mais importante: a da direita ou a da esquerda? Umas disseram: a da direita; outros retrucaram: a da esquerda. E estabeleceu-se a polêmica. O correto seria dizer que são ambas, pois se uma fosse menor, ou mais forte, o pássaro simplesmente não teria equilíbrio para voar. 

O rei bíblico Salomão, certa vez teve que julgar a causa de duas mulheres que disputavam a posse de uma criança. “É minha”, dizia uma delas; “É minha”, retrucou a outra. O rei, com sua sabedoria e perspicácia, então disse: “Vamos cortar a criança ao meio e cada uma fica com uma metade”. Uma delas, a verdadeira mãe, então disse: “Não, isso não! Pode dar para a outra”. Nisso o rei interferiu e deu o veredito: Essa que abriu mão, por amor à vida da criança, é a verdadeira. Pode levá-la!

“Existem coisas que são tão claras que não as percebemos. Certa vez um homem ignorante saiu com uma tocha na mão procurando fogo. Se ele soubesse o que era fogo, teria cozinhado seu arroz bem mais cedo”. Este relato, atribuído ao filósofo chinês Confúcio (551 a.C. – 479 a.C.), mostra como é relativa a percepção de cada pessoa a respeito de determinados fatos e coisas.