A classe média ainda tem a ilusão de que não faz parte do proletariado. À exceção dos pequeno-burgueses, comerciantes e tal, cuja situação nem é tão diferente assim, somos todos vendedores da nossa força de trabalho. Não importa se usamos macacões ou um terninho engomado, não somos donos do capital, e se depender de quem o possui, jamais o seremos.
Essa classe média, essa classe de trabalhadores, tem aderido ao discurso reacionário, neoliberal e de uma retórica moralista rasteira, aquela das palavras de ordem e expressões de impacto. São os que enxergam ameaças comunistas sem nem ao menos se dar ao trabalho de saber o que é o socialismo científico ou mesmo aprofundar-se no estudo da história ou da sociologia.
São leitores do Globo, da Veja, da Época, do Olavo, dos sites apócrifos e sensacionalistas e isso lhes basta para que se considerem "bem informados". Olham o mais pobre como um preguiçoso, um oportunista, um alienado que vive dos programas sociais. Vêem-se como limpos, exemplares, como se todas as oportunidades que tiveram na vida foram pura e simplesmente por seus méritos, como se nossa sociedade estivesse com as portas abertas para todos e que subir na vida é questão de vontade.
É a ilusão meritocrática. Essa classe média olha para os de cima como bezerros dourados, como os vencedores que estão a esperar por eles no paraíso capitalista... São os usuários do FIES e do PROUNI, porque as elites jamais os permitiram entrar facilmente nas universidades públicas, mas mesmo assim se sentem acima dos que utilizam o Bolsa Família. Imagine agora esse cenário nas mentes e corações dos assalariados, a defender uma proposta de governo que atende aos que são diretamente responsáveis pela sua situação econômica e social?
É a consequência direta da substituição do que significa cidadania, agora entendida apenas nas relações de consumo. Com tudo isso, acho legal o pessoal que estuda o marxismo atualizar o conceito de Lumpem. Ele merece ser revisto e, pelo que observamos nessas eleições, bem ampliado.