Uma deliciosa fábula, de autor desconhecido, relata a história de um tigre, um burro e um leão. Conta-se que certa vez estavam o tigre e o burro discutindo sobre a cor da grama. O tigre dizia que a grama era verde, o burro insistia que era azul. Em dado momento os ânimos ficaram exaltados e quase partiram para mútua agressão física. Resolveram, então, ir consultar o leão, o rei. Mal avistou o leão, o burro começou a gritar, perguntando: “a grama não é azul? ... a grama não é azul? O leão foi logo dizendo: “é sim!” Aí, o burro disse ao leão: “então castigue esse tigre teimoso, pois ele insiste em dizer que a grama é verde”. O leão logo disse ao tigre: “como castigo pela sua teimosia, você vai ficar quatro anos sem poder falar”. O tigre, por sua vez, questionou o leão: “mas, majestade, você sabe que a grama é verde, nesse caso por que deu razão ao burro?”. E o leão ponderou: “é para você aprender que não se deve aceitar discussão por causa inútil com quem não tem sabedoria”.
A conclusão moral da história ensina que não se deve discutir com quem já tem opinião formada, com quem não vai ceder, mesmo diante de argumentos irrefutáveis. Por isso se diz que “política, religião e futebol não se discute”, pois já existe um conceito assimilado e dificilmente alguém muda de lado apenas influenciado por argumentação ou apelo. Em outro viés aprendemos, também, que há momento no qual temos que partir na frente, defendendo nossa “bandeira”, se quisermos ser ouvidos, enaltecendo nossos posicionamentos, mesmo que contraditórios ou errados.
Um empresário, meu conhecido, que mais tarde se tornou político, me disse certa vez: “bronca é arma de otário, não aceito desafios para discussão”. E ele tinha razão, pois nunca vi alguma discussão acabar bem. Entretanto, ficar calado muitas vezes significa abrir espaço para que a mentira prevaleça. É mais do que sabido que uma mentira dita muitas vezes se transforma em verdade. É o que chamamos de “sofisma”, prática muito comum nos dias atuais.
Estamos entrando em um período pré-eleitoral, momento em que postulantes a cargos eletivos criam falácias em busca de votos dos eleitores, fazem falsas promessas iludindo os incautos e os gananciosos. É uma fase crítica para a economia do país, notadamente na esfera governamental, onde as decisões, via de regra, são influenciadas pelo interesse político, com medo de se incompatibilizar com eleitores ou financiadores de campanha. Gastos públicos são realizados com a finalidade de agradar o público votante, as chamadas “obras eleitoreiras”.
Lembro que durante a vigência de um dos “Planos de Estabilização Econômica”, o Cruzado, elaborado para debelar a inflação violenta que grassava no país, havia a necessidade da promoção de ajustes. Uma das medidas que havia sido implantada foi o congelamento de preços, e isso feria o princípio básico da economia, a lei da oferta e procura. Assim, decorrido alguns meses da vigência do Plano, era imprescindível que houvesse a flexibilização, mesmo que isso contrariasse a opinião pública. As eleições estavam se aproximando, e as autoridades governamentais resolveram deixar passar a data para só assim implantar as medidas necessárias. Tecnicamente corretas, porém não do agrado dos consumidores, contudo necessárias para o sucesso do Plano Cruzado. Passada a eleição, com esmagadora vitória governista, já era tarde, o descontrole já havia tomado conta e a inflação voltou com muito mais força.
Na fábula, se o tigre tivesse ficado em silêncio, e não entrasse em discussão com o burro, certamente não receberia o castigo que lhe foi imposto pelo rei leão. Por outro lado, se tivesse tido a ação de tomar a frente do seu debatedor e fazer-se ouvir antes da sua manifestação, iria assegurar uma vantagem competitiva. O posicionamento do tigre me fez pensar em uma citação de Mark Twain (1855 – 1910), escritor norte-americano: “como a abelha trabalha na escuridão, o pensamento trabalha no silêncio e a virtude no segredo”.
Temos por hábito sempre estar reclamando da alta dos combustíveis, dos baixos salários dos funcionários públicos, da qualidade dos serviços entregues pelo Estado, etc. e etc. Mas o que se tem feito? A resposta é simples: nada! Cada qual no seu cantinho.
Martin Luther King (1929 – 1968), pastor e ativista norte-americano, deixou-nos uma frase que vale a pena transcrever: “o que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”.
Clésio Guimarães é autor dos livros "A Bíblia e o Marketing — ação e comunicação" e "A Bíblia e as Finanças – o ambiente econômico da Bíblia".