Boulevard Canal, um antigo cartão postal da cidade, mas que dia após dia perde a sua cor, em tons desbotados de sépia, a imagem do que um dia foi um dos pontos turísticos mais visitados, hoje se encontra entre tábuas de madeira partida e poucas esquinas com movimento tão fugaz quanto o cheiro da picanha da chapa dos restaurantes, que ainda sobrevivem entre o turismo preterido. Não muito distante você pode ousar visitar a Gamboa, o império dos biquínis, apenas para confirmar a decadência; pouco movimento comercial, má infraestrutura de acessibilidade – considerando a passagem estreita que mais se assemelha a uma pista de obstáculos na qual um pedestre disputa com uma bicicleta por vez, e até mesmo com outros pedestres entre a subida e descida da ponte – e a falta de recursos que fomentem o comércio local não só da rua, mas de restaurantes, farmácias e outros atrativos que mantenham o turista minimamente interessado em estender seu pós-almoço no lugar. E então vamos visitar a Praça das Águas. Uma boa notícia ao menos: as obras estão sendo realizadas, e por mais que no momento não haja nada para se mostrar, além de especulações, e o visitante se veja novamente frustrado, há ainda a esperança de que algo será construído, finalizado, embora não se saiba bem o quê.
A cidade que há anos parecia deslanchar para ser a maravilha da região dos Lagos, avançando constantemente em construção, passando por melhorias e inovações, hoje se encontra apenas à sombra de promessas entre governos. Desleixo. Utopias. Impraticável. Irrealizável. Projetos extensos de uma cidade eternamente em construção, que caminha para o futuro, mas que nunca vê esse futuro chegar; e que parece sempre mais distante. A acessibilidade nunca chega. Os planos nunca são efetivados, a casa nunca fica pronta. Chegam sempre os sacos de areia e cimento. Canteiros de obra por todos os lados, mas sem nunca se observar a edificação. A finalização. Cabo Frio mais parece um purgatório no qual se demora até mesmo para ter a sentença final. Uma cidade entre meios; não é boa, e nem ruim: é medíocre. Não se esforça para atingir resultados melhores, apenas vive de gloriosos cartões-postais que mais dia, menos dias se tornam cenários cada vez mais intocáveis. A cidade parece caminhar num ritmo próprio, rompido de sexta a domingo quando recebe os turistas. Quebrado por uma falta de preparo para recepcionar. Talvez o projeto de mais um cômodo resolva os problemas dos hóspedes da casa; enquanto antigas salas se deterioram vivendo apenas de molduras nas paredes de um dia de sol. Mas então o turismo precisa acabar? A cidade precisa investir menos em turismo? A cidade precisa investir mais em infraestrutura. Essa é a resposta. Não se pode reformar em uma casa apenas o que é visto pelas visitas, mas também o que é útil e essencial aos moradores. Deveria ser impensado projetar um campo de golfe quando colunas estão a ruir.
O desbotamento do cartão-postal é apenas um reflexo lídimo do sucateamento da cidade. E vai em direção oposta ao que sempre se esperou: a cidade que deveria promover uma migração sazonal, atraindo pessoas durante a alta temporada do verão, promove hoje um influxo: cada vez mais pessoas perdem o interesse pelo município, desde viajantes a habitantes. Outras regiões como a Costa Verde e a Serrana têm expandido o seu número de procuras em hotéis, pousadas e hospedagens aos fins de semana, em contrapartida ocorre um decréscimo na Região dos Lagos. E então a pergunta retórica: é somente do verão que temos que cuidar? E, ao menos, se o grande incentivador de obras for para o turista ver, que veja também o planejamento anual da cidade, e não só uma estação.
*Caroline Gomes é especialista em uso de antimicrobianos pela Universidade de Barcelona, graduanda em Farmácia pela UFRJ e aficcionada pelo realismo mágico.