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Coluna

A atualidade de Malba Tahan

Quando criança, um dos primeiros livros que caiu nas minhas mãos foi “O Homem que Calculava”, escrito por Malba Tahan, um pseudônimo do professor Julio César de Melo e Souza. Ambientado no antigo mundo árabe, o livro é um romance, onde cada capítulo conta

26 agosto 2019 - 20h59

Quando criança, um dos primeiros livros que caiu nas minhas mãos foi “O Homem que Calculava”, escrito por Malba Tahan, um pseudônimo do professor Julio César de Melo e Souza. Ambientado no antigo mundo árabe, o livro é um romance, onde cada capítulo conta as aventuras e desventuras de Beremiz, um jovem que passa a vida a resolver problemas de matemática e contar estórias que mostram o cotidiano do mundo muçulmano.


A primeira coisa que se constata é como este livro mostra o Islã de uma forma totalmente diversa da visão  senso comum  de hoje sobre os árabes e sua cultura. Em lugar do fundamentalismo, uma civilização extremamente sofisticada e apreciadora do legado antigo deixado por gregos e romanos.
Nos pequenos contos de Malba Tahan, não há espaço para o obscurantismo, o fundamentalismo e a intolerância. MalbaTahan pode ser lido hoje com toda segurança, como um verdadeiro antídoto contra todas estas manifestações , tão presentes nos dias de hoje.


O retrato que ele pinta dos muçulmanos é o de verdadeiros guardiões da ciência e da filosofia antigas. “O Homem que Calculava” foi criado como um livro de divulgação científica. Através de estórias Julio de Melo e Souza vai desconstruindo o medo que a maioria das pessoas nutrem pela Matemática.


Não é por acaso que o livro de Malba Tahan teve dezenas de edições, desde o seu lançamento, em 1939. Poucos livros no Brasil tiveram uma trajetória de tanto sucesso junto ao público. Talvez um outro autor com este sucesso só mesmo Chico Xavier. 


Mas  MalbaTahan não é atual somente pelo ensino da matemática. Ela reside também no fato de que a “moral” de todas as histórias onde Beremiz é  personagem é de que a tolerância religiosa é possível e necessária.


Malba Tahan mostra que demonizar o Outro, seja ele Católico, Protestante ou Muçulmano é contrário aos princípios de todas as grandes religiões. Fico pensando aqui porquê cargas d’água, em meio a tantas manifestações de obscurantismo, nenhum educador até o momento atentou para o detalhe de que aqui mesmo no Brasil tivemos alguém que se preocupou em escrever para crianças, algo que hoje tantos adultos esqueçaram.


 Essa semana, mais uma vez, as Trevas nos brindaram com mais uma demonstração de que elas vieram para ficar. Uma criança de 11 anos, foi apedrejada na cabeça, por sair em público com uma vestimenta de sua religião, o candomblé. O que diriam Beremiz e Malba Tahan depois de uma coisa como esta? Não sei, mas penso que ambos achariam que seria muito melhor continuar a perambular pelos desertos montados em camelos,  contando suas histórias em acampamento de beduínos.

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