O navio havia chegado ao porto de Belém, Província do Pará. Levou umas duas semanas para completar uma viagem, que começou em Lisboa, e atravessou o oceano Atlântico com uma série de problemas. Tempestades, falta de água e comida, doenças.
Estamos em 1855, época em que se inicia uma onda de imigração de portugueses para o Brasil. Essa imigração se intensificou no fim do século XIX, e iria mudar inteiramente a população do país nos anos subsequentes.
Naquele navio, havia centenas de imigrantes portugueses que iam viver no Brasil, e alguns deles vieram doentes com uma moléstia altamente contagiosa. Era a Cólera, uma doença altamente transmissível, capaz de matar os infectados em poucos dias.
Uma epidemia de Cólera já havia feito milhões de pessoas na Índia, na Europa, em países como a Itália, a França, a Inglaterra e a Itália.
Mas ainda não havia chegado ao Brasil, embora já houvesse casos no México e nos Estados Unidos. O Cólera foi a primeira pandemia em escala global do século XIX, e embora atualmente a doença esteja sob controle, foi necessário muito trabalho e muitas vidas para que os médicos e cientistas, na época entendessem o mecanismo de transmissão da doença, e a sua cura.
Quando aquele navio português chegou a Belém do Pará, na metade do século XIX, iniciava-se o ciclo desta doença no Império do Brasil, e suas consequências seriam de grandes proporções para a economia, a sociedade e até mesmo a política.
A epidemia de cólera atacou fortemente a população da Província do Pará, e espalhou-se da seguinte maneira: as rotas de transporte marítimo, fluvial e terrestre ajudaram a levar a doença para o interior daquela província. Mas o pior estava por vir.
Na época, o comércio de cabotagem era muito intenso. Os portos do Recife, de Salvador, Santos, Rio de Janeiro e Porto Alegre eram as principais portas de entrada do comércio de outras regiões do Brasil. As ferrovias eram poucas, não havia estradas de rodagem e portanto, o comércio de todo o país dependia de navios que transportavam os produtos das fazendas do interior.
A epidemia de cólera chegou ao resto do Brasil Império dessa forma, e atacou diretamente a população escrava. Muitos fazendeiros perderam centenas de escravos, exatamente em uma época em que o tráfico negreiro foi extinto. Isso significava que um escravo doente, ou morto, não poderia ser substituído, a não ser que fosse por um outro trabalhador, ou em último caso, por uma máquina.
As epidemias de cólera, varíola, febre amarela e principalmente tuberculose eram os principais fatores de mortalidade da mão de obra escrava. A epidemia de cólera pela sua gravidade foi um verdadeiro teste para o governo imperial. Percebeu-se claramente que o país não tinha condições de criar uma infraestrutura de saúde e de educação. Essa incapacidade teria efeitos para além daquele surto de cólera, na verdade ela iria influenciar diretamente o desenvolvimento do Brasil.