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Coluna

Rola-Bosta

04 dezembro 2022 - 10h31

Antes de mais nada é preciso esclarecer que não temos nada contra os besouros Digitonthophagus, que possuem uma importante função ecológica e econômica, sendo um indicador de boas condições da biodiversidade e um excelente auxiliar no aumento da fecundidade e produtividade dos solos agrícolas.

Dito isso em desagravo ao bichinho, podemos ir direto ao assunto. Digitonthophagus são popularmente conhecidos como besouros rola-bosta. Como todo o ser vivo, seu objetivo de vida é se alimentar e ter sucesso no processo reprodutivo. E para isso, reproduz também diariamente a mesma rotina: encontrar fezes de animais, formar seu bolinho e ir rolando-o até os buracos que tenham preparado especialmente para enterrá-las e lá fazer o devido bom uso da matéria fecal.

No caso do besouro isso é muito bom. Mas se pudermos fazer uma analogia simbólica com a vida humana, a coisa fica diferente. Você que me lê não imagine obviamente alguém obcecado em juntar seus excrementos e rolar avenida abaixo até formar uma bela esfera do monturo. Não... O que queremos dizer é que, tal qual a rotina do inseto, há pessoas que conduzem a sua vida de modo semelhante. Expliquemos.

As bostas que rolamos são os nossos defeitos. Pessoas mesquinhas, egoístas, desleixadas, ignorantes e que sentem um estranho prazer em viver de qualquer jeito são esses besouros da vida real. Todos os dias essas pessoas rolam seu montinho de bosta para o buraco. É um ciclo sem fim.

Assim como o instinto conduz o nosso besourinho para passar aos descendentes o mesmo comportamento, os rola-bostas da vida humana também fazem de tudo para que os que estão próximos meçam o que for com a sua régua, ou seja, usam qualquer artifício que levem as pessoas a aceitar a sua visão precária como a correta, desejável.

Para quem rola o montinho, qualquer coisa está “boa”, especialmente se com isso puder evitar seus esforços e investimentos. Se puder então encontrar quem empurre adiante por ela a sua bolinha de titica, melhor ainda!

Mas não é assim que se deve viver. Independente de nossas condições materiais, todos podemos fazer avanços. Viver em um ambiente o mais limpo e conservado possível, levar a vida de modo a não desenvolver um comportamento muquirana de querer tirar vantagem ou o máximo proveito compensatório dos outros, almejar a boa ordem que garante a paz de todos e o funcionamento da vida.

Organização, metas, prazer pelo estético, pelo melhor, pelo progresso, pela fruição que traz momentos de felicidade.

É sobre não aceitar qualquer coisa ou qualquer um. Para as pessoas-besouro, qualquer bosta serve, porque seu caminho sempre será o buraco.  Portanto, se possível, fuja de pessoas que enxergam o estrume como a quintessência do belo. Caso contrário, vai se tornar ajudante de carga.