A quase totalidade da rede pública estadual e uma parte considerável das redes municipais já devem retornar às atividades presenciais a partir do mês de agosto. A suspensão das atividades presenciais na educação tem levado ao forçoso reconhecimento do papel social e formativo da escola. E isso é positivo. A escola é um direito, condição de cidadania, que garante conhecimento, proteção e segurança alimentar, entre outras vários aspectos fundamentais.
É preciso que essa pressão não se restrinja ao momento. Durante décadas o magistério, a educação e as escolas atravessaram duros problemas sem que houvesse comoção, adesão ou defesa acalorada. Pelo contrário. Do mesmo modo, a aprendizagem e as carências múltiplas também raramente mereceram atenção. Não estamos diante de uma geração irrecuperável. Isso pertence ao senso comum distorcido. Há problemas, mas sabemos que a aprendizagem é plenamente “recuperável”, ou melhor, há várias estratégias de construí-la conforme o cenário que se apresenta.
Com algumas sinalizações já ventiladas como critérios impositivos, começam a surgir inquietações. Uma delas é o uso quase generalizado por políticos, autoridades e dirigentes de híbrido e remoto como sinônimos. Não o são. As demais adaptações não fogem muito do padrão conhecido e recomendado, uso de máscaras, disponibilização de álcool em gel, afastamento, rodízio de alunos e maior isolamento nos momentos de alimentação. Completa o quadro o cenário epidemiológico por meio das bandeiras, regulando aprioristicamente a progressão da reabertura. Parece suficiente?
Vejamos.
O que poderia ser diferente e certamente muito mais seguro é o uso da vacinação como primeiro condicionante. A regulação das atividades continua praticamente ignorando a sua existência, fixando-se no que havia de possibilidade de análise no período em que as vacinas não existiam: contaminados/saturação de leitos. Por isso, o primeiro critério poderia ser os profissionais da educação com as duas doses tomadas e a reabertura sendo gradativamente feita conforme a faixa etária dos alunos que recebessem ao menos a primeira dose. Essa ação não substituiria de pronto as demais regras e adaptações físicas nas escolas, mas tiraria delas o peso de ser a única frente ou critério de proteção. Inclusive poderia se estudar uma adaptação menos draconiana considerando o universo de imunizados. Somado a isso, deveria haver um plano de testagem periódica.
Com relação a oferta, já que a preocupação é a qualidade e a efetiva aprendizagem, não é justo dar às famílias uma falsa escolha. Se haverá o retorno presencial e caberá aos responsáveis optar pela ida dos filhos, então seria necessário que as aulas fossem transmitidas de modo remoto no horário escolar, ou seja, em tempo real. Isso é opção. Essas ações poderiam ser complementadas por uma estratégia metodológica híbrida (aí sim, usando o conceito correto), onde parte da carga horária fosse oferecida em uma plataforma interativa com conteúdo, atividades, links, mídias (etc...) de modo integrado ao presencial/remoto. Assim, faria sentido dividir a carga horária de trabalho docente.
Essa responsabilidade pedagógica é uma precondição que deve ser cobrada com a mesma veemência pela Justiça e pela sociedade. Caso contrário, o rio de “empecilhos” cairá em cascata, ou seja, um velho filme em que as autoridades dirão que tudo será “impossível”, “impraticável”, menos os arranjos e arremedos que colocarão, num previsível campo de confusão, lacunas e equívocos, os profissionais da educação para que “deem seu jeito” de resolver. O melhor seria a segurança, o profissionalismo e o acolhimento. Podemos mais. Nossas crianças e jovens merecem. E muito.