Como sabemos na prática, a pandemia do Coronavírus forçou a migração do ensino para plataformas remotas. Com o avanço da vacinação e a progressiva reabertura das escolas em todos os níveis temos observado as mais variadas manifestações que colocam ao lado da necessidade do retorno a opção pela continuidade do uso das tecnologias, seja para atender aos protocolos (se forem efetivamente propostos e cumpridos) que visam reduzir o número de alunos presenciais em sistema de rodízio, seja para oferecer uma opção segura de continuidade para profissionais e estudantes que tenham alguma limitação ou desejo de prolongar a precaução. Por isso, tem sido comum observamos as redes públicas e privadas de ensino se manifestando nas mídias quanto à possibilidade de uso ou opção alternativa entre a educação presencial e o ensino híbrido. E é aqui que temos um problema: ensino híbrido é algo diferente de ensino remoto. Parece um pequeno detalhe retórico, mas não é. Por trás dos termos existem teorias e práticas distintas que podem até ser complementares, mas não sinônimos. Confundir essas duas dimensões, além de teoricamente incorreto, implica numa cadeia de decisões também incorretas que, no final das contas, tem muito mais probabilidade de gerar um Frankenstein pedagógico e um rocambole jurídico do que uma solução com capacidade, inclusive, de abrir portas para um novo e importante momento educacional. Em suma, é como o dito popular: o que começa errado, termina errado.
O ensino remoto é um conceito simples. Na verdade, não se trata de uma modalidade e sim de um recurso. Ele está vinculado a um o conjunto teórico-metodológicos que corresponde à modalidade presencial. Portanto, a presencialidade e a sincronicidade são as suas principais características. Usar o recurso remoto é transmitir uma aula ao vivo, seja da sala de aula, seja da casa do professor ou de qualquer outro espaço. Nele, alunos e professores interagem ao vivo como em uma aula convencional. O que muda é a provável (mas também não obrigatória) adaptação de algum recurso ou ferramenta que tornam virtuais os processos físicos, como a realização de trabalhos em grupos (os programas de transmissão contam com esse recurso de salas para trabalhos em grupo). Desse modo, professores e alunos poderiam optar em estar fisicamente presente ou acompanhar virtualmente, em dia e horário fixo e ao vivo, as aulas.
O ensino híbrido é uma metodologia de ensino. Ele também é vinculado a modalidade presencial de modo integrado. Quando usamos essa nomenclatura estamos nos dirigindo ao uso programado de uma plataforma virtual de gestão de aprendizagem (privada ou aberta) que oferece um conjunto de conteúdos e recursos como vídeos, textos e os mais variados links (museus, instituições, canais, portais, entre outras ilimitadas opções), integrados ao planejamento do professor presencial na forma de preparação prévia das aulas, para uso durante as atividades em sala ou ainda para a fixação e ampliação do que foi aprendido. Ou tudo isso junto. Com as plataformas virtuais é possível acompanhar o consumo dos conteúdos, acessar relatórios de desempenho qualitativo e quantitativo obtidos pelos recursos como quiz, exercícios e avaliações, dar métrica de desempenho, levantar dúvidas e lacunas e, o mais importante, ampliar a experiência educacional a um nível muito mais completo, abrangente e condizente com o atual cenário tecnológico. Portanto, falar que o aluno poderá optar no retorno em aulas presenciais ou híbridas é um erro conceitual. Ele poderá optar pelo ensino remoto ou presencial. Inclusive, já que o remoto tem como pré-condição a presencialidade é possível utilizar a metodologia híbrida. Mas aí é uma história diferente. E muito desejável para o ensino público.