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Coluna

Racismo

26 maio 2023 - 06h10

O racismo é uma das maiores abominações que podem existir em uma sociedade. É claro que a maior parte do que favorece esse tipo de crença e conduta está cimentado no mau-caratismo. O restante a história explica. O problema é que a percepção de fenômenos de longa duração histórica exige certo refinamento intelectual, coisa que racistas não possuem.

Ele é por si só obsoleto. A estruturação em raças leva em conta exclusivamente aspectos fenotípicos. Quem deu o tom do racismo moderno foi o filósofo francês Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882), cujo trabalho esforçava-se por fazer crer não apenas numa tipologia diversificada das raças, mas, sobretudo, na superioridade da raça branca. O objetivo: justificar e naturalizar os preconceitos e a desigualdade econômica e social, reafirmando a branquitude como dominante.

O século XIX foi emblemático nesse sentido. O imperialismo e o expansionismo na África, na Ásia e nas Américas foram marcados pelo racismo. É desse tempo o poema de Rudyard Kipling (1889) que transformava a empreitada colonialista como um “fardo do homem branco”. Antes, em 1872, John Gast, pintor e tipógrafo prussiano radicado no Brooklyn, transformava a Doutrina do Destino Manifesto em uma pintura que retratava a chegada de “iluminados” colonos brancos ao Oeste estadunidense e a raça dos indígenas na parte sombreada da tela, em fuga.

Na virada para o século XX, as sociedades de eugenia começavam a se multiplicar. Baseadas na pseudociência que bebia na fonte das antigas teorias de Gobineau. No Brasil, que apenas em 1888 acabara formalmente com a escravização dos povos negros, não foi diferente. Em 1929 tínhamos por aqui o primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia, chancelada pela intelectualidade elitista da época. As discussões giravam em torno da ressignificação da miscigenação como estratégia de branqueamento físico da população, cujos referentes mestiços na cultura também se fariam branquear ou europeizar, sendo muitos deles até mesmo criminalizados ou matizados com a marca de demoníaco (no caso das religiosidades).

Atualmente, avançamos com a criminalização do racismo. Mas não é o bastante. Ainda há grandes abismos de representatividade nos mais variados campos da vida política, econômica e social. Ainda temos fortes preconceitos e muita disposição por parte de neofascistas e ignorantes, de tentar praticá-lo do modo mais cínico possível. O racismo tenta emergir na relativização das redes, pelas falas do “agora não se pode falar nada que...” ou “no meu tempo era comum chamar fulano de...” Até na comédia a cretinice de lucrar com o racismo e o preconceito se amplifica na canalhice de chamar tudo isso de liberdade de expressão. São tempos difíceis para pessoas inteligentes, para os não racistas, mas sobretudo infinitamente mais difíceis para as vítimas.

Por isso, por trás de um estádio inteiro hostilizando um jogador por meio do racismo, há uma batalha civilizacional. E por trás do racismo, somente a barbárie, a ignorância e a vilania.