MANDÃO
Para uns é mais uma mera cortina de fumaça em meio ao avanço da CPI da Pandemia; para outros, um alerta da recriação cênica dos arroubos fascistoides protagonizados por Donald Trump. O fato é que Bolsonaro deseja baixar uma MP para impedir as redes sociais de apagar e transmitir seus conteúdos. Talvez uma literatura de fácil linguagem ajude o politburo brasileiro a entender melhor o cabimento de certas atitudes. Um livro infantil antigo da grande autora Ruth Rocha, O Reizinho Mandão, seria uma boa pedida para entender que o poder não é a manifestação da vontade com a ameaça do arbítrio. As empresas que administram as redes possuem suas políticas de dados e conteúdos baseados em critérios legais internacionais. Hoje essas prerrogativas têm ajudado imensamente a evitar que qualquer Reizinho Mandão promova ainda mais caos, mortes e instabilidade.
MOLEZA
A despeito dos avanços conseguidos, o comportamento de Pazuello na primeira parte do seu depoimento mostra uma fissura na condução que os governistas já perceberam e estão explorando até o limite: a plácida tolerância com a veracidade duvidosa das informações. De acordo com os próprios senadores presentes e reforçado pela enxurrada de publicações comprobatórias feitas por meios de comunicação e entidades, depoentes como Wajngarten, Ernesto Araujo e Pazuello mentiram ou no mínimo foram contraditórios e incoerentes em seus depoimentos. Se assim for, de nada adianta o juramento inicial com o compromisso legal em falar a verdade. Já perceberam que medidas mais duras pelo comportamento não serão tomadas. Prova disso é o fato de Pazuello nem precisar evocar o habeas corpus dado pelo STF.
VOVÔ
Os pitos que o presidente da CPI da Pandemia, senador Omar Aziz (PSD-AM), passa nos depoentes quando esses, digamos, abusam do diversionismo ou da criatividade narrativa, está parecendo aquelas broncas bonachonas de avô que os netos não levam muito a sério. A coisa só muda de figura quando o assunto esbarra na situação calamitosa do Estado do Amazonas, base eleitoral do senador. Chega a deixar o decoro de lado. A despeito da reconhecível e exemplar gravidade do que aconteceu por lá, seria interessante que a comissão encarasse com mais dureza o comportamento dos depoentes. Mentir em CPI é crime. Se não fosse sério não precisaríamos dela.
PORTEIRA
A investigação sobre uma possível ação criminosa envolvendo o Ministério do Meio Ambiente, Ibama e demais órgãos vinculados mostra uma gravíssima situação que pode jogar o Brasil ainda mais fundo no lamaçal, sobretudo internacionalmente. A Polícia Federal apura indícios sólidos de advocacia administrativa, formação de organização criminosa, corrupção ativa e passiva, prevaricação, crime ambiental, contrabando, obstrução da justiça, entre outros. Soa ainda mais estranho o fato de houve todo um esforço para mudança na legislação relacionada a facilitação de critérios para a exportação de madeira ter sido aprovada e logo após surgir a maior apreensão de corte ilegal de madeira da história do país. Algo deu errado? A porteira foi aberta mas faltou passar o boi? Em tempo, é bom lembrar que foi promessa de campanha de Bolsonaro a desestruturação do Ibama e do Ministério como um todo. Parece cumprir à risca.