Construir uma nova educação pública é tão possível quanto necessário. Para tal, é preciso entender a sua natureza, que se mostra tanto sob a forma horizontal quanto verticalizada. A horizontalidade se explica pela forma de rede, a qual a educação pública se caracteriza, ou seja, as práticas que se estabelecessem de modo interconectado, abrangendo as relações interpessoais, mas também os fatores estruturais, materiais, teóricos, metodológicos, curriculares e sociais. O que se mostra como vertical é o modo pelo qual essa rede é dirigida, ou seja, as hierarquizações e as dimensões de comando, nas quais se concentra o poder de agir.
Infelizmente, é mais comum que a dimensão vertical seja estruturada como algo desconexo com relação à horizontal. Desse modo, os gestores educacionais perdem a noção primordial de que administram todas os fatores que compõem a horizontalidade e que possuem uma missão tanto legal quanto moral de desenvolvê-las, porque delas dependem o presente e o futuro dos estudantes e também dos profissionais envolvidos nesse processo. Essa cisão é perigosa e improdutiva. Faz com que gestores adotem resoluções absurdas, leva ao autoritarismo e ao reducionismo de toda a complexidade dos aspectos laborais (no caso dos profissionais) e sociais-cognitivos (no caso dos estudantes) aos caprichos ou conveniências do seu grupo político. Dito de modo mais claro, faz-se política com a educação sem que haja uma política de educação. Na primeira é uma opção de governo. Já a segunda, e mais necessária, de estado.
Por isso, em primeiro lugar, uma nova educação pública precisa de gestores públicos diferentes. Que adotem para a área de educação uma mentalidade estatal. Essa é uma visão politicamente inteligente e mais vantajosa, pois fará com que o governo seja reconhecido. Já o inverso não acontece, uma vez que a educação costuma sofrer seja com o descaso, seja com os desvarios, seja com a desorganização, ou ainda com a empáfia dos “gestores de coleira”, os que só tem compromisso com quem os segura pelo pescoço.
Assim, o presidente, governadores e, os mais próximos de todos, os prefeitos, deveriam colocar a educação como um eixo norteador do desenvolvimento, trocando a visão tacanha de que com elas “se gasta”, para uma atitude planejada de investimentos. E são coisas bem diferentes. Quando você “gasta” com educação, toma medidas curtas, faz remendos e arremedos de impacto praticamente nulo ou ainda uma rede profundamente desequilibrada, com umas escolas bombando na propaganda e outras mergulhadas na calamidade. E isso é o sinal mais contundente de que uma rede integrada se tornou um problemático arquipélago de escolas.
Como investimento, governantes e gestores são capazes de revolucionar a educação e a sociedade. Profissionais valorizados e com qualificação planejada, espaços estruturais e materiais adequados ao exercício pedagógico, escolas preparadas como um espaço verdadeiramente inclusivo. Enfim, que essa seja a visão que nos espera, no tempo que for.