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Coluna

O novo na rotina de estudos

09 setembro 2021 - 17h47

O estabelecimento de rotinas de estudo e de organização pessoal das crianças e jovens são partes muito importantes do seu processo de desenvolvimento e amadurecimento. Contudo, não é uma tarefa tão fácil como aparenta ser. Todos sabemos os profundos desníveis socioeconômicos presentes em nossa sociedade. Desse modo, as condições ideais que vemos em manuais e recomendações de especialistas raramente são realistas ou factíveis, pelo menos para a maioria das pessoas.
Nos referimos aqui às tradicionais formas de expressão como manter o cômodo de estudos tranquilo, organizado e com todos os recursos disponíveis, além de alguns “extras” que vez ou outra surgem como harmonização de cores (que tornaria mais propenso determinado estado mental/emocional), música de um tipo específico (geralmente clássica, tida como a música dos inteligentes e eruditos), entre outros.  Esse cenário não é o da maioria das pessoas comuns. Na educação real nos deparamos com alunos que muitas vezes tem limitações espaciais severas no âmbito doméstico, precariedade de recursos disponíveis e um ambiente cujas características se tornam hostis ao estudo e a concentração, chegando aos limites da salubridade. Por outro lado, mesmo fora dessas condições mais adversas, é comum que haja dificuldades consideráveis para que as casas se tornem espaços de estudo de plena capacidade.

No primeiro caso, há que se repensar a escola como espaço aberto e funcional não apenas para o cumprimento da jornada escolar regular, mas também para o atendimento em contraturno para que itinerários de estudos e apoio acadêmico possam ser oferecidos. Isso engloba essa importante dimensão, pois mesmo possuindo condições mínimas favoráveis em casa, deveres mal colocados (geralmente como uma equivocada visão de “mais é melhor” do professor tarefeiro, ratificado pela expectativa da família que associa “mais é mais forte”) e a incapacidade ou possibilidade do auxílio qualitativo dos responsáveis nas tarefas, podem levar ao desânimo ou ao cumprimento burocrático (de qualquer jeito), o estudar por estudar. No segundo caso (e muito do que diremos se aplicaria ao primeiro também), onde existem mais recursos disponíveis, é possível auxiliar com uma programação realista de tarefas que façam sentido, conjugadas com o aproveitamento integral do tempo em regime de imersão. O que isso significa? Vejamos. A pandemia nos dias de hoje escancarou o que já era sabido, que as interfaces tecnológicas são fontes e meios cada vez mais imprescindíveis. Há pouco tempo, no entanto, eram vistos como “inimigos” do estudo e das aulas.

Hoje, esses mesmos aparelhos são recursos de grande valia, mas continuam sendo potenciais distratores pois fornecem a possibilidade de abertura de várias telas com as chamativas e tentadoras redes sociais, além de jogos e outros mecanismos de comunicação. Banir esses aparelhos não é o modo sensato de encarar a realidade dos fatos. É necessário reconstruir uma educação prévia para uma nova rotina de estudos. Isso implica uma maior consciência de uso, pois está nas mãos das crianças e jovens a administração honesta do tempo. Portanto, diálogo constante, a supervisão possível e o acompanhamento (mesmo que a posteriori) das tarefas e cumprimento qualitativo das rotinas serão mais do que necessários. 

E o mais importante é não restringir esses momentos apenas para o prolongamento das aulas curriculares. Elas são apenas uma parte do processo. Realizar revisões pontuais do que foi aprendido no dia e os respectivos deveres são ações recomendáveis, mas é igualmente necessário estimular múltiplas experiências ao alcance como a indicação de um filme, documentários, podcasts, publicações nas redes, a leitura de periódicos ou reportagens e livros. São formas de quebrar a falsa dicotomia do desprazer obrigatórios do conhecimento escolar X o prazer da aprendizagem múltipla (que como não é escolar é considerado lazer). E isso vale para todos nós!