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Coluna

Não existe meio neofascismo

21 março 2024 - 11h48

Ao final da Segunda Guerra Mundial os ventos do julgamento de Nuremberg começaram a soprar. Alguns colaboradores do regime nazifascista deram cabo da própria vida antes de passar pelo julgamento da humanidade já que, por certo, a condenação capital seria decretada. Entretanto, outros foram para o banco dos réus. Como fascistas inveterados, usaram por todo o tempo os expedientes do deboche, da ironia, das desculpas estapafúrdias na tentativa esdrúxula de justificar o injustificável. 
Já outros foram mais habilidosos em tentar chutar a bola da culpa para o lado, colocando-se como meros burocratas, cumpridores de ordens, ainda que conscientes dos efeitos dos seus atos. Como escape retórico, se apequenavam como meras peças de uma engrenagem maior, da qual não podiam escapar ou modificar o fluxo. Essa qualidade de mentira teve efeito difuso, as vezes dando certo, as vezes não. 

O mais impressionante, no entanto, é a desfaçatez dos que aderiram voluntariamente como apoiadores do regime nazifascista, mas que se encaixavam perifericamente ou até mesmo não se encaixavam formalmente em suas estruturas. Contudo, o abraçaram entusiasticamente. Esse fenômeno não era propriamente novo, já que na Itália vários segmentos como artistas, acadêmicos e profissionais liberais se envergaram orgulhosamente ao fascismo, na crença de que sua situação melhoraria, que seriam reconhecidos, importantes, que receberiam cargos, pompas e que estariam no comando. A maioria esmagadora destes saiu vergonhosamente pela porta dos fundos da história, escorraçados depois de devidamente usados.

O neofascismo é uma realidade contemporânea. E como seus congêneres do século passado, exerce força gravitacional tanto sobre os acólitos quanto sobre os incautos e mais ainda sobre os oportunistas. O neofascismo tampouco é novidade. Os exemplos nacionais e importados são fartos. Portanto, quem apoia, quem adere ao neofascismo o faz por completo. E sabe bem o que faz.

Por mais que haja contorcionismo retórico dos que querem manter um pé no neofascismo e outro no humanismo (para não dizer na civilização), não existe meio apoio ao neofascismo. Não existe apoio condicionado. Não existe o apoio aos seus candidatos, ou lideranças sem professar ou endossar o credo ideológico de tudo o que o neofascismo representa, defende e faz. Não existe meio neofascista, não existe neofascista que pelo menos trabalha ou que vai fazer diferente. Neofascista é neofascista e fará o que o neofascismo prega, mesmo que promova obras, pague salários, distribua cargos ou não faça nada disso. 

Dizer o contrário é mero cinismo. Vaidade, ambição, desejo de surfar na onda, são as verdadeiras justificativas e que poderiam ser abertamente faladas. Mas, ser meio-fascista ou apoiador asséptico de neofascista, impossível. A história cobrará o preço. Já cobrou uma vez e cobrará novamente. O erro é humano, iludir-se também. Aprender e voltar atrás é meritório. Mas a insistência é escolher lado, e sem posar de desentendido ou coitado.