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Coluna

Encruzilhada econômica

19 maio 2023 - 05h40

O capitalismo contemporâneo está em uma encruzilhada e precisa escolher para onde vai. O maior impulsionador das práticas capitalistas foi o sistema de crédito. Por meio dele foi possível, por exemplo, obter o capital necessário para novos empreendimentos, bem como para o seu aprimoramento. Até aí, nenhuma novidade. Para os bancos e instituições de crédito, essa relação é um pouco mais complexa. A concessão de créditos necessita de uma rede de confiança. É claro que não se trata de uma impressão. Confiança é construída com base em estudos, indícios e projeções (com alguns toques de feeling e sorte). Na verdade, ela significa a aposta de que o tomador do crédito prosperará de tal modo que possa pagar o empréstimo, seus encargos, tomar novos ou ainda inserir seus ganhos nos portfólios de investimentos dessas instituições.

Os bancos e as instituições, por sua vez, aplicam esses recursos em outras operações, como a compra de ações, aportes e investimentos em empreendimentos públicos e privados, entre outros, com a confiança de que conseguirão fazer dinheiro com o dinheiro investido, lucrar com isso e continuar remunerando aqueles cujo dinheiro possibilitou essas operações.

Isso não ficou restrito a capitalistas e financistas. Para a massa de trabalhadores o crédito também parecia ser um negócio atraente. E isso exigiu uma grande mudança comportamental. Nos primórdios do capitalismo, no tempo da influência da ética protestante (como nos mostrou Max Weber), a austeridade e a poupança eram um modo desejável de conduta. Mesmo desvencilhando-se rapidamente dessas amarras morais, em tempos de recuperação de grandes catástrofes (como as guerras mundiais), observou-se o retorno dessa tendência, na forma da previdência e da moderação. Mas não estamos nesses tempos, e o consumo e a necessidade do gozo imediato se tornam os componentes da formação desse novo sujeito do prazer urgente (e efêmero).  E, para tal, o crédito cai como uma luva. Não adie sonhos, não poupe, viva o agora. O consumo torna-se um mantra tão poderoso que, em alguns países (como o nosso) confunde-se gravemente com a cidadania.

Governos também tomam empréstimos. E toda essa roda gira da mesma maneira. Qual a encruzilhada então? Para que toda essa estrutura não desabe como um castelo de cartas é necessário produção. Sem desenvolvimento, sem crescimento, todo o sistema enfrentará solavancos cada vez mais violentos, com sério risco de colapso. Por isso, as decisões, doravante, são as que optarão pela proteção do capital em detrimento do crescimento ou um grau de fragilidade do capital em nome do desenvolvimento. Não precisa ser um especialista para saber qual delas salvará a todos e qual condenará o sistema em um futuro próximo.

De resto, o desafio do desenvolvimento passa pela criação do pós-capitalismo. Será algo novo, mas que já tem seus alicerces lançados e fortemente ancorados entre o real e o virtual e suas inteligências, naturais e artificiais, conectadas. Questão de tempo. Brevíssimo tempo.