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Coluna

Educação pública e legado tecnológico

26 março 2022 - 11h29

Em recente matéria publicada no jornal O Globo (edição de 21 de março de 2022) tivemos a triste constatação de uma tragédia anunciada. A informatização das escolas públicas e o acesso à internet tiveram um tímido avanço. Qualquer observador atento pôde constatar os prejuízos no aprendizado dos nossos alunos durante a pandemia. No caso da rede particular a migração para sistemas remotos de ensino ancorados em plataformas interativas foi mais rápida e mais efetiva. No caso da educação pública essas soluções oscilaram entre poucas experiências de notória relevância e sucesso e a esmagadora maioria de ações improvisadas, mais próximas da necessidade de se cumprir as exigências comprobatórias de carga horária do que a da eficiência e eficácia pedagógicas. 

Olhando esse cenário por outro ângulo podemos afirmar com segurança que a razão dessa discrepância se dá pelo descompasso relacionado à atualização e incorporação de tecnologias educacionais entre as duas redes. É simples explicar: Enquanto as privadas já possuíam expertise e experiências em sistemas de ensino com metodologias ativas e concepção híbrida, a rede pública majoritariamente permanecia na simplicidade analógica e na concepção metodológica tradicional de transmissão escrita e expositiva centrada no protagonismo docente. 

Mesmo que a migração para estratégias virtuais, remotas ou híbridas tenha sido feita no tranco e encarando vários barrancos, esperava-se que após o arrefecimento da pandemia e o retorno às aulas presenciais tivéssemos um aumento considerável da conectividade e a incorporação definitiva das estratégias remotas, híbridas e das metodologias ativas. Mas não foi o que aconteceu. A expectativa do legado cedeu lugar a retomada diretamente do ponto anterior de inflexão. 
Há nas discussões sobre educação o entendimento pacificado de que apenas a introdução das tecnologias não garante por si só a melhoria na qualidade do ensino e o desempenho relacionado à aprendizagem. Mas isso é uma meia verdade. Se por um lado o entendimento é verdadeiro, por outro é inegável que, havendo a disponibilidade de recursos e o treinamento adequado para o seu aproveitamento, ampliam-se exponencialmente as oportunidades de se realizar um trabalho educacional profundo e diferenciado. Até porque é uma demanda do nosso século esse tipo de ensino.

O que ficou patente ou pelo menos aparente foi que tudo o que foi tentado e desenvolvido nesse período se configuraram como soluções de contingência, um breve desvio tomado à revelia pela educação pública que, assim que tudo se normalizasse, retornaria para a mesma estrada retilínea, de paisagem previsível e monótona. Mas não deveríamos nos conformar com esse cenário. Muito menos reforçar as visões fatalistas e reducionistas.

A escola pública se mostrou extremamente necessária sob vários aspectos durante a pandemia. A função educacional foi uma das facetas apenas. A dimensão protetiva e cidadã, o cuidado com a segurança alimentar e a capacidade de estruturar concepções e discursos ancorados na ciência, são exemplos do quanto essa instituição fez falta, mas também fez a diferença.

Sendo assim, é muito importante revisitarmos o que foi feito no período de maiores restrições da pandemia e elaborar políticas públicas e estratégias metodológicas capazes de garantir a incorporação definitiva das novas tecnologias educacionais. Não apenas como válvulas de escape em situações de exceção, mas como regra de um novo cotidiano escolar.