A burocracia totalitária é o instrumento que constrói a farsa da educação pública contemporânea. Quando as fábricas já eram realidade em boa parte do mundo, os seus donos e alguns teóricos começaram a imaginar e implantar ideias que proporcionassem um maior controle do trabalhador e, por conseguinte, da produção. Começava um novo patamar da divisão e hierarquização do trabalho. Um belo dia, lá pela transição do século XIX para o XX, algum burocrata, certamente no desejo de impressionar o chefe-maior e subir alguns degraus na hierarquia do poder, perguntou: “Que tal aplicar essa burocratização na educação?”
E como a última moda era os sistemas de burocratização industrial, achou-se por bem utilizar-se desse modelo para a organização da educação pública. Sendo assim, começava a transposição da escola para que se tornasse uma espécie de fábrica de formar gente. Nesse processo, entretanto, tudo foi feito de modo arbitrário e sem nenhum embasamento científico. É isso mesmo o que você está lendo. O modelo burocrático de organização da escola pública foi uma mera cópia malfeita.
Qual o fundamento em se criar as disciplinas separadas? Qual a razão de se definir uma determinada carga horária e como nela foram distribuídas as disciplinas? Por que as disciplinas se chamam disciplinas? Por que elas estão fixadas em uma “grade” curricular? Por que uniformes? E a prova científica de que as notas correspondem ao aprendizado efetivo? Em que bases se ampara o ranqueamento por desempenho? E o que pode ser considerado desempenho? O que trazia de proveito os castigos físicos, o controle físico e a obsessão pela entrega das metas (notas mínimas, produções e exercícios, exames, testes e provas...). A resposta para isso é: não há respostas. São os resultados do “corta e cola”.
É claro que os estudos sérios sobre a educação e o desenvolvimento humano em todas as fases começaram a dar os seus primeiros e importantes passos. A grande questão passaria a ser: como encaixar todas as fantásticas descobertas teóricas e as possibilidades metodológicas nesse sistema regido pela burocracia totalitária? Mais uma vez não houve coragem para essa transição. O que houve, no máximo, foi uma problemática justaposição. Resultado: os docentes passam a ter e obrigatoriedade de beber na fonte dos saberes pedagógicos no seu processo de formação, porém, não reconheciam a menor sombra de possibilidade da existência dessas teorias ou de sua aplicação efetiva na educação pública.
Burocratas também passaram por essa metamorfose pedagógica. O importante para a burocracia totalitária na educação é escrever obsessiva e pormenorizadamente sobre o que os governos desejam que seja a realidade. Como o importante é o que se produz em termos de papel, basta que estejam contemplados todos os jargões, frases e tempos verbais corretos para que as coisas existam. Assim, professores podem continuar mal pagos e desprezados pelos gestores e as escolas capengas. O real é o que o governo quer ler e, atualmente, postar.