Aprendizagem emocional é um dos aspectos fundamentais da educação contemporânea. Por meio dela conseguimos desenvolver habilidades essenciais, como a empatia, o saber conviver, o respeito à alteridade e como lidar com ela nas inúmeras construções que compõem o mosaico de uma sociedade plural. Nos ensina como divergir e convergir, nos capacita para compreendermos melhor nossos sentimentos com relação a nós mesmos, aos outros, assim como o nosso lugar no mundo, do nosso papel e responsabilidades com o ambiente.
Infelizmente, a visão limitadora do conteudismo ainda faz com que a aprendizagem emocional seja vista como uma distração ou como algo piegas e sem valor utilitário. Há ainda os que acreditam ser incompatível o trabalho com os importantes conteúdos de ensino e a aprendizagem emocional. Duplo equívoco. Talvez isso se justifique pelo modo como a questão vem sendo apropriada nos círculos pedagógicos. E sim, há ainda um profundo vão entre as pesquisas sérias em educação e as redes de ensino. No meio desse vão, todo o tipo de truísmo, enxurradas de autoajuda simplória, simplista, mistificadora e enganadora. Coisas que geram cifras e mais cifras em livros, palestras, vídeos monetizados e coisas do gênero. Não é raro que se troque a aprendizagem emocional pela mensagem emotiva, sobretudo nos importantes momentos de treinamento e educação continuada profissional. E são coisas bastante distintas. As mensagens emotivas partem de uma obviedade universal: o sofrimento, as lacunas, as dificuldades. Portanto, gera identificação imediata. Conquistada a identificação inicial, parte-se para o encantamento por meio de imagens e falas preferencialmente das artes, algo que “toque a alma”. Às vezes, salpicam-se citações para dar um sabor erudito, mas nada além de um cobertor curto de frases costuradas ao longo de uma narrativa que tem o seu clímax ao chegar, com todos os requintes de teatralidade, exatamente de onde partiu.
Afinal, a educação padece de um sentimento masoquista de não resolver suas dores. E que dores? Que sofrimentos? O de ser composta de profissionais que ainda são os que recebem uma das menores remunerações dentre as demais ocupações equivalentes de nível superior? O de abrigar esses mesmos profissionais e os educandos em unidades de ensino sem estrutura física adequada, sem conforto, com precários materiais e insumos, sem equipamentos ou com eles extremamente diminutos, defasados... Sem conexão com o mundo, sem conexão com os livros, sem conexão com uma alimentação decente, limpeza, conservação, suporte psicossocial? A dor de a cada ciclo de aprendizagem ter que remendar o insucesso do anterior com o afrouxamento cada vez maior da capacidade de ensinar? O sofrimento de ouvir chamar de pedagógico o que é apenas um recrutamento para que se faça tudo o mais fácil e rasteiro possível? Ou será a dilaceração causada pelo silêncio que nos é imposto pela sobrevivência, pela democracia-verniz que apenas tinge linhas horizontais em pinturas verticais de grossas tintas do impositivo que sempre estiveram prontas para prevalecer, para cobrir, para fazer-se, no fim das contas, cumprir? Ou ainda o grito que não sai quando profissionais da educação e alunos se entreolham e se veem gravitando no mesmo espaço de sempre, o do ambiente quase improvável de se educar?
Aprendizagem emocional, portanto, é algo muito sério e muito distante do “gratiluz”. Mais distante ainda da falácia de que é possível transformar a realidade apenas mudando a visão teórica, aplicando uma metodologia ou avaliando de outra maneira. São dimensões imprescindíveis, é verdade, mas que não têm o poder de substituir o estrutural, o básico, o elementar, o sustentáculo.
É pedir muito? É sonhar demais? É uma análise injusta? O tempo dirá. Aliás, já vem dizendo...