A gestão educacional é uma das partes mais importantes das relações políticas e sociais. É comum que, ao longo da formação, muitos profissionais identifiquem incompletudes e inadequações entre a teoria e a prática. Na verdade, quando nos tornamos profissionais da educação, entramos em contato com uma visão holística que vai desde os aspectos filosóficos aos práticos, as metodologias de ensino.
Com relação à gestão isso não é diferente. Geralmente temos algumas noções básicas como a legislação, a estrutura e o funcionamento das instituições educacionais. Entretanto, quase nada nos prepara para a complexa tarefa de administrar seja uma sala de aula, uma escola ou uma rede de ensino. É nas adaptações forçadas pelas práticas ou pela continuidade das tradições e ritos que fazemos as rodas girarem. Se isso por um lado resolve parte do problema, por outro impede que possamos atingir novos e necessários patamares. Soma-se isso ao nosso gosto pela redundância e irrelevância burocrática e temos um sistema autofágico.
Partindo do topo para a base, podemos observar que a gestão política das redes públicas de ensino do nosso país é marcada por duas características, a falta de um projeto de longo prazo e a descontinuidade. Por mais que tenhamos vastos e densos documentos de metas e indicadores, não conseguimos transformar tudo isso em algo factível e adequado às múltiplas realidades de um país continental. É o drama eterno da centralização, que acaba por se tornar mais referência (às vezes até utópica) do que fato. É claro que isso não se aplica aos quesitos imprescindíveis de lisura e trâmites administrativos. As leis relacionadas ao uso de verbas e a aplicação de projetos e programas têm uma natureza diferente. Talvez por isso as deficiências e lacunas que encontramos em muitos administradores impedem o bom uso dessas dimensões.
É comum que os gestores públicos das redes sejam alternados conforme as cores e desejos dos grupos políticos da vez. E é igualmente comum que cada um tente inventar novamente a roda ou que simplesmente culpe os antecessores e faça a roda que já existe girar. Também é notória a irrelevância e a falta de aderência e familiaridade com que muitos desses cargos são preenchidos. Para piorar, é ainda mais comum no Brasil que o grupo da vez destrua o que o antecessor construiu de bom. A educação se move em looping. Na esfera escolar temos cada vez mais o espelhamento dessas relações macro. Já não é incomum que candidatos a cargos eletivos “façam” diretores de escolas ou os apoiem em troca de votos e vantagens ou, ainda, que diretores e diretoras usem a função como trampolim eleitoral. Como se não bastasse, a gestão escolar ainda permite certos gargalos onde uma intenção inescrupulosa pode render benefícios pessoais pouco ortodoxos. Traduzindo, o uso das verbas para fins pessoais. Mas não existem rigorosas prestações de contas? Sim, mas o que aparece nos fins nem sempre é o que existe nos meios.
Uma escola mal administrada aparece sob a forma da desorganização, depreciação, desarmonia. E quanto mais gestores desejam o poder, mais alerta a comunidade educacional deve ficar. Se o cenário é dramático, a sede de poder seria masoquismo? Provavelmente não. O mesmo vale para as redes. Manter-se em cargos e funções a qualquer custo traz terríveis consequências. Faz com que assuntos relevantes sejam esquecidos, que anomalias sejam patrocinadas (como o patrulhamento ideológico) e que desvios éticos e crimes administrativos aflorem. Basta ver as recentes manchetes sobre o lobby por verbas e programas do Ministério da Educação.
Portanto, preparar os profissionais da educação para gerir seu campo pode ser um divisor de águas importante e necessário para a construção de um novo cenário.
*Paulo Cotias é professor de História.