Vez ou outra nos deparamos com as comparações entre os modelos de gestão pública e privada na educação, onde quase sempre se toma a segunda como a preferível e que se fosse aplicada resolveria boa parte dos problemas da primeira. Essa visão inquietante me levou a visitar os estudos do Prof. José Leão Marinho Falcão Filho, sobretudo a obra “Gestão Escolar Compartilhada”, que percorre os tempos e os espaços das teorias de gestão na nossa educação.
A questão que abre esse artigo não é propriamente um pensamento novo, muito menos a atitude de incorporar modelos de gestão sem a devida consideração às condicionantes sociais, econômicas e políticas locais. Assim foi, por exemplo, com o taylorismo. A visão de Taylor estava preocupada na relação do trabalhador com o seu trabalho. Desse modo, como considerava que a tendência natural do trabalhador é empenhar-se o mínimo possível nessa tarefa, tornava-se necessário que se estabelecessem mecanismos de controle eficientes.
Transplantado esse modelo para as escolas, constroem-se estruturas de controle estrito, pelos quais o tempo, o espaço e a natureza do trabalho eram estabelecidos por meio de rotinas rígidas tanto para os profissionais da educação quanto para os estudantes.
Outra teoria incorporada foi a de Fayol. Ele partia do princípio da divisão do trabalho entre os que pensam e os que executam. Assim, cria-se uma cisão entre as estruturas de gestão, equipe pedagógica, coordenações e professores/alunos, uma vez que preconizava a existência de uma hierarquia sólida e programações previamente determinadas as quais caberia às “partes executivas” apenas cumprir. Há muito resquício dessa tendência até os dias atuais.
Completando as partes dos “transplantes”, temos também a perspectiva weberiana, que despersonalizava a gestão dos processos, concentrando-a na figura da burocracia. O importante é produzir o máximo de documentos, evidências e demais itens que possam ser verificados, armazenados e olhados por diferentes segmentos da estrutura administrativa, criando-se assim a noção de controle (e, obviamente, de poder).
Com a introdução das perspectivas progressistas da educação essa situação se inverte. Até então acreditava-se que as questões relacionadas à educação se resolviam dentro da escola com a adoção ferrenha de um dos sistemas de controle administrativos que vimos até agora. Não se consideravam como importantes os contextos sociais, econômicos, políticos e culturais. Com o fim da ditadura, no entanto, todos esses aspectos retornam à ordem do dia e se tornam elementos importantes na transformação da concepção da educação e da escola como partes imprescindíveis na formação cidadã.
Por outro lado, essa guinada fragilizou os aspectos da gestão. Isso significa que passamos a ter professores, gestores e corpo técnico com excelente leitura das variáveis políticas, econômicas, sociais e culturais, mas com grandes deficiências na dimensão técnico-operacional. Ou seja, com grande habilidade de reconhecer os problemas, mas com dificuldades em criar soluções pedagógicas e técnicas no que concerne à aprendizagem. Assim, temos adiante o desafio de construir novas maneiras de gerenciar os sistemas educacionais e, por conseguinte, as escolas. E aqui colocamos a ênfase nas redes públicas de ensino. Se conseguirmos romper os reducionismos sócio-políticos e aliarmos o papel cidadão da educação e das escolas com um sistema de gestão democrático e eficiente e capaz de criar e operar dentro dele soluções de aprendizagem, viveremos certamente um ciclo virtuoso.