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Coluna

A conta da educação

08 junho 2023 - 08h42

Quando alguém falar para você que o Brasil gasta dinheiro demais em educação, duvide. Durante décadas não passamos de 3% do Produto Interno Bruto (PIB), destinado ao setor. Para piorar a situação, a porcentagem ainda varia e, nos últimos anos, amargamos o decréscimo do PIB, resultado da retração econômica crônica pela qual passamos. Ou seja, temos um passivo ainda considerável e um presente que vai aos poucos perdendo o fôlego.

Dados da educação brasileira mostram que, em média, gastamos na educação básica menos de R$ 5 mil anuais com os nossos alunos. Mas não pensemos que esse dinheiro cobre apenas as necessidades dos estudantes. Porém, esse não é o único investimento, devendo-se levar em consideração o salário dos docentes, o investimento em estrutura educacional, em melhorias nas condições de aprendizagem e em políticas de estímulo a carreira profissional do magistério.

Cada cidade é uma realidade. Isso significa que para algumas delas, há maiores necessidades de recursos para vencer dificuldades, como isolamento, precariedade de acesso, déficit docente, excesso de demanda discente, entre outros. Como contra-argumentos, muitos se referem à corrupção como a grande culpada. Não é bem assim. Apesar de não termos estudos mais aprofundados sobre essa temática, especialistas afirmam ser a margem de desvios das verbas da educação muito exígua. Isso não nos livra da corrupção em absoluto, já que é possível, por exemplo, “inchar” redes ou órgãos gestores da educação para fins eleitorais. Agora, se gastamos mal é porque somos tecnicamente ainda muito despreparados nas secretarias de educação.

O argumento de que o Brasil gasta mais com o ensino superior do que com a educação básica também não é verdadeiro. O desmonte contemporâneo do ensino público de terceiro grau é uma maldade que enviesa o ultraliberalismo e o chauvinismo governamental. Na verdade, temos cerca de trezentas instituições públicas de ensino superior no Brasil que englobam menos de dois milhões de alunos. O fato do investimento no setor chegar a 1,2% do PIB precisa ser melhor traduzido no que é absolutamente necessário a qualquer país que pretenda alçar a autonomia, a saber, gastos com bolsas de estudos, financiamento de pesquisas, custeio estrutural e investimentos em inovação. Sabendo que o setor privado de ensino superior responde por aproximadamente 75% da demanda educacional e onde é raro praticar com afinco a pesquisa e a extensão (além da remuneração docente como “horistas”). Precisamos pensar bem o tipo de modelo que queremos, caso seja nossa meta o status de produtor de ciência e tecnologia.

Mas ao que parece, o desejo que se vislumbra no Brasil é o de fazer, de educação básica a superior, um imenso “escolão” de má qualidade e atrelado de modo escalonado a um mercado de trabalho cada vez menos disposto a remunerar com dignidade a classe trabalhadora. E esse modelo envernizado tem todos os indícios de que vai produzir um estrago considerável.