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Coluna

Surrealismo político

29 agosto 2024 - 12h22

“Surrealismo é um dos movimentos europeus de vanguarda surgidos no início do século XX. Apesar de influenciar outras áreas artísticas, ele está predominantemente vinculado às artes visuais. Assim, a pintura surrealista constrói imagens que lembram ilógicos sonhos, de forma a investigar o inconsciente humano.”  As obras de Salvador Dali são algumas das mais conhecidas desse movimento artístico do século passado. Fazendo uma analogia desse conceito aplicado à realidade social, parece-me que na prática a política viva dessa ilusão surrealista ou da falta de lógica para confundir eleitores, principalmente nos períodos eleitorais. Em Cabo Frio, como em todo o Brasil, retóricas e narrativas são construídas para tornar o eleitor cada vez mais confuso e aceitar absurdos na política.

Ao analisar os fatos políticos mais recentes, ocorridos nos últimos meses, observando as alianças sacramentadas entre os atores políticos, é possível perceber um pouco do que estou destacando como surrealismo na política cabo-friense. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas inaugurou o que ele denomina de “bolsonarismo moderado”. Em seguida, em Cabo Frio, é perceptível que o candidato bolsonarista da região, o deputado estadual Serginho, fez um enorme esforço para aderir a moda do governador paulista. Tenta mostrar que o extremismo de outrora ficou no passado, que ele amadureceu, que está aberto às alianças de todas as naturezas políticas. Essa foi a senha, para que vereadores, que se diziam progressistas ou de centro, pulassem a cerca para o lado do bolsonarista “moderado”. Examinemos, por exemplo, o caso dos vereadores Davi Souza e Miguel Alencar. 

De outro lado, outro experimento interessante de surrealismo, foi o da prefeita Magdala, Afastou-se do saudoso prefeito José Bonifácio e assumiu sua face bolsonarista na eleição de 2022, participando de atos com a ex-primeira-dama Michele Bolsonaro e aderindo a campanhas bolsonaristas na região, como a do próprio deputado Serginho. Quando assumiu o executivo cabo-friense, logo buscou abrigo na federação PT-PV-PcdoB e tenta mostrar a todo custo que era progressista de carteirinha. Uma espécie de neoambientalista. 
O surrealismo na política é tudo isso, os atores políticos podem ser qualquer coisa. Tudo podem em nome dos seus projetos de poder. Narrativas são construídas para justificar qualquer postura e confundir o eleitor. Não é uma questão mudar de posição ou evoluir. Posições políticas fluem como o vento que sopra para um lado ou para o outro. São construídas alianças por conveniência ou oportunismo. E tudo bem, não estão ferindo nenhuma lei, não há nada de ilegal nisso. 

Entretanto, enganam-se aqueles que pensam assim. A história há de julgar as alianças de fachada. A prática política exige coerência sim. As convicções e a visão de mundo dos atores políticos não podem mudar ao sabor das conveniências. E a população, em algum momento, vai cobrar a conta daqueles que não tem coerência ou que usam a política em favor dos seus próprios interesses.