Em matéria da Folha de São Paulo, da semana passada, a jornalista Mariana Brasil aborda a diferença abissal entre as médias das notas de redação do ENEM, da rede pública estadual de ensino, em comparação com a rede privada, em cada estado da Federação. Em alguns estados, como Ceará, Tocantins e Piauí, a diferença entre as médias supera os 45%, ou seja, a média da nota de redação da rede pública é em torno de 500, enquanto na rede privada é acima dos 700. Numa análise rápida, a partir desse levantamento, pode-se inferir algumas conclusões importantes, talvez óbvias, principalmente no que diz respeito à falta de qualidade no ensino público.
A primeira conclusão muito óbvia é que essa análise reforça a enorme desigualdade social a que estão expostos os jovens brasileiros, em fase de conclusão do ensino médio. Mostra que ao término do ensino médio público, os jovens cidadãos não estão formados com o mesmo nível de conhecimento e habilidade, em produção textual e uso da linguagem nativa do Brasil. Em tese, isso já é uma clara evidência de que as chances de acesso ao ensino superior e ao mercado de trabalho, são menores para os alunos oriundos da educação pública. Daí a importância, num primeiro momento, da política de cotas para estudantes da rede pública acessarem as universidades públicas. É uma forma paliativa de reduzir a desigualdade no ensino superior. Isso por si só não resolve o problema, mas ameniza a distorção.
Uma política definitiva seria um investimento maciço na qualidade do ensino público, desde o ensino infantil, passando pelo ensino fundamental, até a conclusão do ensino médio. Não é uma questão apenas de recursos financeiros e materiais. Passa pelo reforço na estrutura curricular, com tempos de aulas a mais para os alunos treinarem habilidades de produção textual, entre outras, de estímulos à participação em oficinas, eventos e conscientização da comunidade escolar. Não é tarefa fácil, pois necessita ser uma política pública de longo prazo. Os professores precisam ser capacitados e remunerados para planejar atividades curriculares, complementares e extracurriculares, além de estarem comprometidos e motivados com a busca da qualidade e da excelência no ensino público.
A maioria estados têm profissionais de educação com capacidade pedagógica suficiente para enfrentar esses desafios de qualidade. Mas é preciso que as autoridades públicas tenham determinação política, que sejam cobradas e fiscalizadas com rigor para mudar esse cenário deficiente, que se comprometam com objetivos e metas de elevação da qualidade de ensino. Como diria o mestre Darcy Ribeiro, a crise na educação não é uma crise, é um projeto!